Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A Comissão da Verdade deve investigar, sobretudo, o destino dado aos chamados desaparecidos políticos do período da ditadura (1964-1985), defenderam, em entrevista à Agência Brasil, o jornalista, escritor e professor universitário Sinval Medina e a jornalista, pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo (USP) Cremilda Medina. Para ambos, os trabalhos devem se concentrar basicamente nos governos militares a partir do golpe de 1964.
“Onde foram parar os desaparecidos políticos? As famílias, os amigos e o Estado têm direito de saber isso. No Brasil, não houve nem há pena de morte, portanto, o Estado [na época da ditadura militar] não tinha o direito de matar. Tinha de permitir o julgamento correto e justo”, disse Sinval.
Cremilda acrescentou que o debate não deve se concentrar na discussão sobre vítimas e algozes. “Não se pode pensar de forma maniqueísta, imaginando que há mocinhos e bandidos. Uma realidade é multifacetada”, disse ela que, assim como Sinval, participou do seminário O Jornalismo na Construção da História, promovido pela Universidade de Brasília (UnB).
Os professores advertiram ainda que é preciso pensar qjue a Comissão da Verdade representa novo capítulo da história do Brasil. Segundo eles, erram aqueles que defendem as chamadas “investigações dos dois lados”. “Os responsáveis devem ser levados à Justiça. Se isso vai ocorrer? Não sabemos. Mas a verdade tem de vir à tona”, alertou Sinval.
Há dois dias, a presidenta Dilma Rousseff instaurou a Comissão da Verdade, formada por sete pessoas que terão dois anos para apurar violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar (1964-1985). O grupo, porém, não terá poder de punição. Na comissão, há juristas, ex-ministro da Justiça, ex-procurador, advogados e psicanalista.
Para Sinval e Cremilda Medina, a escolha dos nomes foi acertada. “A Comissão da Verdade está bem constituída e equilibrada”, disse Sinval. “Há evidências ocorridas durante a ditadura que são indiscutíveis. O crime é sempre crime”, acrescentou Cremilda.
Edição: Graça Adjuto