Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A destinação correta dos resíduos eletrônicos levou o Instituto Gea-Ética e Meio Ambiente a implantar, em janeiro do ano passado, em parceria com o Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (Cedir), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP),o projeto Eco-Eletro (Segurança+Renda), de capacitação de cooperativas de reciclagem.
O projeto é patrocinado pela Petrobras e leva dez catadores por mês para os bancos da Poli-USP, onde aprendem como lidar de forma segura e mais rentável com o lixo eletrônico.
A presidenta do Instituto Gea, Ana Maria Domingues Luz, disse à Agência Brasil que a entidade percorre depois as cooperativas, para constatar se os catadores estão aplicando, na prática, o que aprenderam no curso.
Uma das catadoras formadas pelo projeto é Selma Maria da Silva, do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR). “Para a gente, foi muito bom, porque nós já estamos trabalhando com lixo eletrônico”, declarou. Os catadores formados viram multiplicadores dos conhecimentos obtidos nas cooperativas. Selma faz parte da Cooperativa Nova Esperança, localizada em São Miguel Paulista (SP), onde já há um posto coletor implantado para esse tipo de equipamento.
Ana Maria acrescentou que o projeto fornece também infraestrutura às cooperativas, como ferramentas, por exemplo. “Nas cooperativas que se propõem a trabalhar de acordo com as linhas de conduta propostas pelo instituto, a gente instala um núcleo de tratamento de lixo eletrônico”. O instituto faz ainda a divulgação da cooperativa como um ponto seguro de encaminhamento desse tipo de lixo. Os catadores são orientados também a vender o lixo eletrônico separado apenas para compradores licenciados e que dão tratamento e destinação correta aos materiais.
A cada mês, uma turma de catadores é capacitada. Ao todo, já foram treinados 119 catadores de 53 cooperativas. “O projeto foi pensado para atingir apenas as cidades de São Paulo, Guarulhos e os municípios do ABC Paulista”, disse Ana Maria. O projeto acabou despertando, entretanto, bastante interesse, inclusive de outros estados brasileiros. Em março passado, dois catadores de Minas Gerais fizeram duas semanas de curso e planejam replicar o que aprenderam. Todos os formandos recebem um CD explicativo, com as aulas detalhadas. “A nossa ideia é que seja replicado mesmo”, ressaltou a presidenta do instituto.
Além dos catadores, o Instituto Gea recebe, também gratuitamente, outros interessados nos cursos do projeto. São pessoas de comunidades, de organizações não governamentais, das prefeituras, além de apoiadores e jornalistas. “Tem sido muito interessante porque, ao mesmo tempo em que estamos disseminando informações sobre os problemas de como descartar o lixo eletrônico, isso permite que pessoas de diferentes níveis econômicos possam conviver em sala de aula e, às vezes, diminuir preconceito”, destacou Ana Maria.
Para os catadores, o curso é uma vantagem, porque adquirem conhecimento específico de alto nível, que agrega cidadania e melhora sua autoestima. “Eles se sentem muito contentes e valorizados por estarem estudando na USP”.
O projeto Eco-Eletro se estenderá até o final deste ano. A perspectiva é ter até dezembro mais oito turmas de catadores. A presidenta do Instituto Gea admitiu que existe a possibilidade de renovação do patrocínio da Petrobras para o projeto, mas com algumas modificações. “A ideia, disse, é dar mais condições para expandir o conhecimento para outras localidades do Brasil, uma vez que o projeto não dispõe, no momento, de recursos para pagar a estadia e alimentação para catadores de outras cidades”.
Ana Maria estimou que a questão do lixo eletrônico terá maior divulgação quando for implantada a logística reversa (devolução do produto após o consumo aos fabricantes). O mecanismo abre possibilidade de parceria dos catadores com as próprias empresas e irá beneficiar também a população brasileira como um todo.
Edição: Aéc io Amado