Filmes independentes ganham mostra em São Paulo

15/04/2012 - 11h35

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Filmes caseiros, experimentais, artísticos, transgressores, alternativos e autorais, produzidos em quaisquer formatos ou suportes, nas mais variadas épocas, com ou sem patrocínio, podem ser vistos este mês na capital paulista. Toda essa produção audiovisual independente, que teria pouco espaço no cinema comercial e convencional do Brasil, é a base da Mostra do Filme Livre, festival que já passou pelo Rio de Janeiro e por Brasília e que permanece até o dia 22 de abril em cartaz na cidade de São Paulo. A entrada para as sessões é gratuita.

Durante a mostra serão apresentados 230 filmes, 50 deles convidados especialmente para o festival e 180 selecionados após um edital, onde foram inscritos mais de 800 produções. A maioria dos filmes selecionados para a mostra, ou seja, cerca de 85% deles, não conta com patrocínio estatal ou leis de apoio à cultura nacional. “São filmes feitos na raça, mais por amor do que para ganhar dinheiro. São filmes que não precisam dar lucro e nem levar milhões [de pessoas] à bilheteria”, explica Guilherme Whitaker, criador, produtor e coordenador-geral da mostra.

Whitaker conta que a mostra surgiu há 11 anos no Rio de Janeiro, quando foram exibidos 70 filmes, entre curtas e longas-metragens. “A mostra nasceu no Rio e ficou dez anos por lá. No ano passado, na décima edição, chegou a São Paulo e, este ano, em Brasília”, disse. Segundo ele, em todo esse período, a mostra conseguiu acompanhar a mudança nos formatos dos filmes, passando a receber filmes não só em películas ou vídeos, mas também os que foram produzidos até mesmo em celulares, de baixo custo.

“A Mostra do Filme Livre nasceu para dar espaço a filmes alternativos, que buscam invenção na linguagem e que sejam esteticamente mais originais. E isso se encaixa muito com o perfil de curta-metragem, que é um formato mais voltado para as experimentações. Há 11 anos, não havia espaço para curtas em vídeo. Criamos a mostra para dar espaço para essa produção, que é muito grande”, disse Whitaker.

Um balanço feito pelos organizadores da mostra apontou que os custos de produção dos 800 filmes inscritos chegou a R$ 4 milhões, com custo médio de R$ 5 mil por filme. Quase metade dos filmes inscritos teve custo inferior a R$ 100. O gasto total de produção dos filmes selecionados alcançou R$ 1,19 milhão.

“Estamos formando público para o cinema que pensa, que não é comércio. Estamos trabalhando com arte, que não é feita para agradar – ela pode até agradar e ser entretenimento também, mas um dos papeis da arte é ser transgressora, colocando o dedo na ferida”, disse ele. Com isso, a  Mostra do Filme Livre procura apresentar filmes que dificilmente passariam no circuito comercial, seja por causa dos temas mais complexos, artísticos, políticos ou violentos, seja porque não são longas-metragens, geralmente privilegiados nos cinemas em todo o país.

Na mostra deste ano, os organizadores decidiram homenagear o cineasta Edgar Navarro Filho, apresentando diversos filmes e curtas do diretor, entre eles O Homem Que Não Dormia (2011). “Ele é uma figura muito amável e nada careta. Já tem mais de 60 anos e fez filmes clássicos em Super-8 e curtas-metragens na década de 1970. Ele ficou muito tempo sem fazer nada e, agora, está lançando seu segundo longa, chamado O Homem Que Não Dormia, que deve entrar em cartaz em breve em São Paulo”, disse Whitaker.

Em São Paulo, a mostra acontece no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e na Matilha Cultural.

Edição: Andréa Quintiere