Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A coordenadora do Laboratório de Controle da Poluição das Águas, da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), Marcia Dezotti, concorda com pesquisa da Fundação SOS Mata Atlântica, divulgada hoje (22), Dia Mundial da Água. “É verdade que o saneamento básico não é priorizado no Brasil”, declarou. Na avaliação dela, o esgoto não é coletado, e quando é coletado, não recebe o tratamento adequado.
Isso significa, segundo a especialista, que enquanto os países mais desenvolvidos do mundo estão investindo em tecnologias para tratarem ainda melhor o esgoto, o Brasil tem um longo dever de casa a fazer nessa área. Ela recordou que o esgoto atual é diferente do esgoto que havia na década de 40 do século passado, por exemplo. “Porque, hoje em dia, a gente utiliza uma quantidade de fármacos, de produtos de limpeza, de higiene pessoal, quimioterápicos, e essas substâncias todas têm como destino final o esgoto”.
Marcia Dezotti disse ainda que as instituições que fazem tratamento do esgoto são muito antigas. “Fazem um tratamento da década de 1960. E no Brasil, a gente não tinha que estar falando em tratamento, mas, sim, em como tratar melhor o esgoto”. Os rios acabam sendo receptáculos finais de esgoto e de outras substâncias, como particulados e pesticidas.
Ela citou o casos positivos, de algumas cidades do estado de São Paulo, como Araras e Pirassununga, que alcançaram 100% de coleta e tratamento de esgoto. “É um nível de desenvolvimento muito diferente na comparação com o que existe entre os diversos estados brasileiros”. No sentido oposto, mencionou o caso de Nova Iguaçu e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que têm apenas 1% de tratamento de esgoto. “É zero. E são milhões de pessoas morando na região”.
Marcia Dezotti concordou também com a Fundação SOS Mata Atlântica sobre a deficiência dos municípios na área de saneamento básico. Para a especialista, o problema também atinge os estados. “E também no estado, que estabelece algumas diretrizes. Se isso vira uma meta, tem de ser obedecido. Mas isso, na verdade, não existe. Fica tudo contaminado”.
Ela admitiu que coletar esgoto custa caro, porque é preciso haver rede coletora, mas tratar não é tão dispendioso. “O que ocorre é que a gente tira petróleo do fundo do mar, do pré-sal, que é uma coisa super difícil de fazer, somos a sexta economia do mundo, indo para a quinta, e não coletamos e tratamos o esgoto?”, indagou a pesquisadora da Coppe. Segundo Marcia Dezotti, o mesmo vale para o tratamento da água, “porque as nossas estações são obsoletas”.
Para ela, essa é uma questão de vontade política, no que se refere ao estabelecimento de metas e ao seu cumprimento. E lamentou que o país ainda tenha, no momento atual, de falar em necessidade de coletar e tratar esgoto. “É triste, não?”.
Edição: Aécio Amado