Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A nova mancha de óleo detectada pela Marinha na última sexta-feira (16), em uma área operada pela petrolífera Chevron no Campo de Frade, na Bacia de Campos, levanta em especialistas a suspeita de que novos vazamentos podem surgir no local. O primeiro ocorreu na mesma região, em novembro do ano passado.
Na avaliação do professor Moacyr Duarte, do Grupo de Análise de Risco da Coordenação de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), houve falha no estudo prospectivo preliminar, porque a procura de petróleo no fundo do mar “é feita com sísmica [técnica para pesquisar estruturas geológicas que podem formar reservatórios de petróleo], usando carga de colapso”. O estudo deveria ter apontado a fragilidade do solo na região, disse o especialista, em entrevista à Agência Brasil. “Se [isso] não foi [identificado], algo no estudo preliminar falhou”, completou.
De acordo com ele, se estiver ocorrendo um colapso progressivo no solo acima do reservatório, as consequências podem ser "muito ruins". Caso ocorra um colapso total, há chance de ter no local um ponto de vazamento crônico, cuja vedação demandará muito tempo. Podem ocorrer também vazamentos em série ou simultâneos, destacou. “Na medida em que vai 'colapsando' acima, o reservatório vai abrindo. São fendas e estruturas geológicas que favorecem a passagem do petróleo. Não há resistência necessária para conter a pressão do poço.”
Duarte lembrou que no primeiro vazamento, ocorrido em novembro de 2011, a operação de contenção envolveu a injeção de concreto contra a pressão do poço, o que acabou gerando mais força, e isso “para uma estrutura fraca é muito ruim”.
Segundo o professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal Fluminense Adalberto da Silva, com base nas informações dadas pela empresa Chevron – “e que são poucas” –, houve um erro operacional na perfuração. Isso fez com que falhas antigas do solo marinho naquela área, que estavam sem movimentação, fossem reativadas. O resultado são vazamentos de óleo por essas fissuras, mesmo que em pouca quantidade. Como a área é extensa, o controle é difícil.
O diretor de Inovação e Tecnologia da Coppe/UFRJ, Segen Estefen, avaliou ser difícil afirmar que está havendo um colapso progressivo no solo acima do reservatório, mas concordou com Moacyr Duarte que existe a chance de ocorrerem vazamentos em série ou simultâneos. Ele salientou a necessidade de se levantar uma série de informações, incluindo como foram feitos os cálculos da geologia local, para se ter a dimensão do vazamento. É preciso ainda, completou, ter dados sobre a pressão que foi injetada a fim de conter o primeiro vazamento.
A constatação de que o dano seja progressivo requer, segundo Segen Estefen, a adoção de sensores no local, para medir o possível afundamento do solo. Para ele, é preciso que se faça, com rapidez, um poço de alívio para tentar estancar o vazamento. “À medida que se faça esse poço, tem que se avaliar também se o solo vai ceder, porque isso diminui a pressão naquele reservatório”, destacou.
O oceanógrafo David Zee, que acompanhou como perito a Polícia Federal até o local do primeiro vazamento na área operada pela Chevron, disse que o incidente agora está se desdobrando. “Houve um acidente, não causado pela ação humana, mas sim, pela perfuração. Foi um gatilho que começou a ter efeitos colaterais da fragilidade geológica que está se constatando lá”. Para ele, há uma fragilidade natural no solo e a perfuração foi um agente provocador. "Trata-se de uma falha estrutural, geológica.”
Ele entregou, na ocasião, um laudo ao delegado Fábio Scliar, da Polícia Federal, em que relata as consequências do incidente para a flora e a fauna marinhas. “Na hora em que começa a vazar óleo, por mínimo que seja, ocorre algum tipo de impacto.”
Como o pré-sal atravessa uma zona de instabilidade geológica, Moacyr Duarte (da Coope/UFRJ) disse que, a partir de agora, as características dos estudos e das tecnologias usados na prospecção de petróleo terão de ser mais sofisticados. “Os estudos têm de ser revisados, à luz desse novo dado. Isso é uma coisa que tem de ser feita com urgência”. Ele explica que deverão ser usados robôs com câmeras para detectar com precisão os pontos de vazamento. Se eles permanecerem pequenos, o efeito de contaminação poderá ser negligenciado. A questão, porém, é que não há garantia sobre a estabilidade do solo nessa região, avaliou.
Edição: Talita Cavalcante