Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Fortalecer uma política de leitura como agenda estratégica para o desenvolvimento da América Latina e do Caribe é um dos objetivos do escritor Fabiano dos Santos Piúba, o primeiro brasileiro a ocupar uma das quatro subdiretorias do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc) da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Criado em 1971, o Cerlalc é responsável por estimular a leitura, a produção literária, a criação de bibliotecas e proteger a criação intelectual em toda a região – além de Espanha e Portugal. Piúba, que chefiava a diretoria de Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura, assumiu no último dia 23 de fevereiro a Subdiretoria de Leitura, Escrita e Biblioteca do Cerlalc, em Bogotá, na Colômbia. O conselho do centro atualmente é presidido pelo representante brasileiro no órgão – o presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim.
Além de oferecer assistência técnica para que os 21 países-membros desenvolvam políticas públicas de estímulo à leitura, o centro também realiza pesquisas e estudos que servem de subsídio aos governos e ao setor privado. Entre os exemplos de ações locais desenvolvidas com o apoio do Cerlalc estão um projeto para estimular a leitura entre jovens uruguaios que vivem em condições de vulnerabilidade social e o fortalecimento dos sistemas nacionais de bibliotecas públicas de países latino-americanos e caribenhos.
“Ao longo de seus 40 anos, o centro estabeleceu uma trajetória importante, apoiando os países-membros a formular e desenvolver políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da leitura, do livro e de bibliotecas”, disse Piúba a Agência Brasil, citando o Plano Nacional do Livro e da Leitura, de 2005, como exemplo das iniciativas brasileiras desenvolvidas a partir da colaboração institucional com o Cerlalc.
Escritor, Piúba tem doutorado em educação pela Universidade Federal do Ceará e é mestre em história pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Em 2006, quando coordenava o setor de Políticas de Livros e Acervos da Secretaria de Cultura do Ceará, criou o projeto Agentes de Leitura. O programa, que emprega jovens para atuar como agentes culturais em comunidades de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), logo foi adotado pelo Ministério da Cultura.
Segundo Piúba, poucos países latino-americanos e caribenhos possuem uma política específica para o livro, leitura e bibliotecas. “As ações de estímulo à leitura não podem ser eventuais. Elas precisam ser institucionalizada por meio de leis, de uma política de Estado, de maneira a não ficarem ao sabor deste ou daquele governo”.
Para a presidenta do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Sônia Machado Jardim, o convite a Piúba é um sinal de que, além da maior projeção internacional, o Brasil vem ocupando novos espaços. Para ela, a nomeação de um brasileiro pode possibilitar uma maior troca de informações a respeito das experiências de outros países.
“O Cerlalc tem uma grande importância por agregar e disponibilizar informações de toda a região sobre leitura e literatura, o que permite comparar a situação dos diversos países a partir de dados obtidos através de uma metodologia única.”
A presidenta da Câmara Brasileira do Livro, Karine Gonçalves Pansa, também considera a nomeação positiva para o Brasil. Segundo ela, embora receba pouca atenção da imprensa em geral, o Cerlalc desempenha um papel importante para o mercado editorial.
“Estamos sempre trabalhando em conjunto com o centro, obtendo orientação para a formulação de políticas e aplicação de pesquisas, por exemplo. A própria pesquisa Retratos da Leitura no Brasil é feita a partir da metodologia proposta pelo Cerlalc.”
Edição: Andréa Quintiere