Monica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina
Buenos Aires – A presidenta argentina Cristina Kirchner causou surpresa nessa quinta-feira (1º) ao propor três voos diretos de Buenos Aires às Ilhas Malvinas – o arquipélago do Atlântico Sul cuja posse desencadeou uma guerra verbal nos últimos meses entre a Argentina e o Reino Unido. O governo britânico reagiu com cautela: disse que cabe aos moradores das Malvinas aceitar ou não a oferta, mas avisou que ficaria “decepcionado” se os argentinos pressionassem os chilenos para suspender os voos que já existem entre o Chile e as Malvinas.
Os quase 3 mil habitantes das ilhas, a 500 quilômetros da costa argentina, estão praticamente isolados. Na América do Sul, a forma mais rápida de chegar ao arquipélago é um voo da empresa LAN Chile, que sai da cidade chilena Punta Arenas e, uma vez por mês, faz escala na cidade argentina de Rio Gallegos.
Cristina fez a proposta no fim de um discurso de mais de três horas, que abriu o ano legislativo na Argentina. Ela disse que queria renegociar um acordo dos anos 1990 (autorizando os aviões chilenos a passarem pelo espaço aéreo argentino), para aumentar a frequência dos voos, desde que partissem de Buenos Aires e fossem da estatal Aerolineas Argentinas.
O clima de desconfiança deve-se aos acontecimentos da última semana. Há dois dias, a ministra da Indústria argentina, Debora Giorgi, pediu a 20 empresas locais e multinacionais que deixassem de importar produtos do Reino Unido – entre eles, máquinas agrícolas e fertilizantes. Sugeriu que seria melhor buscar fornecedores em países amigos, que reconhecem a soberania argentina das Malvinas.
A informação - atribuída a fontes do Ministério da Indústria ouvidas pela agência oficial Telam – provocou a reação imediata do primeiro-ministro britânico, David Cameron. Ele apelou aos outros 26 países-membros da União Europeia (UE), que manifestaram preocupação com eventuais barreiras comerciais argentinas – apesar de nenhuma delas ter sido colocada no papel ou ter saído do papel.
Os argentinos aproveitaram para dar o recado: agradeceram aos britânicos por terem “finalmente” levado a disputa pela soberania das Malvinas a um fórum internacional. E sugeriram discutir o assunto também com os 12 países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
A escalada de declarações e de ameaças de retaliação aumentou nos últimos meses - véspera do aniversário de 30 anos da Guerra das Malvinas. No dia 2 de abril de 1982, a ditadura argentina tentou recuperar pela força o arquipélago, que foi ocupado pelos britânicos em 1833. No conflito armado de 72 dias, morreram 649 argentinos, 255 britânicos e três moradores das ilhas.
No início de fevereiro, o príncipe William (segundo na linha de sucessão do trono britânico) desembarcou nas Malvinas para um treinamento de piloto de guerra. Para os britânicos, é uma rotina. Para os argentinos, uma provocação.
Sábado passado (25), o governo da província argentina de Terra do Fogo impediu que dois navios, com 3 mil turistas, ancorassem no Porto de Ushuaia. Os cruzeiros tinham bandeira das Bermudas (território ultramar britânico) e tinham passado pelas Malvinas.
Edição: Graça Adjuto