Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - “É uma briga que dificilmente vai se ganhar”, disse à Agência Brasil o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, da Fundação Getulio Vargas (FGV), sobre a decisão do governo de estender para empréstimos externos de até três anos a alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A alíquota de 6% incidia apenas sobre os contratos de empréstimo no exterior com prazo máximo de dois anos. A medida é mais uma tentativa da equipe econômica de conter a valorização do real diante do elevado ingresso de dólares no país.
O economista explicou que a entrada excessiva de dólares ocorre porque o mundo inteiro está aumentando a liquidez [injetando dinheiro nos mercados] em função da crise econômica mundial e, em particular, a dos países europeus. “O Banco Central dos Estados Unidos tem juros de 0% até 2014; o Banco Central Europeu está com taxa de liquidez abaixo de 1%, para permitir a rolagem [da dívida] dos países em crise. O Japão tem juros muito baixos. Na Inglaterra é 0,5%. Então, é muita liquidez no mundo para facilitar a rolagem da dívida”. Com os países desenvolvidos em crise, Barbosa Filho disse que o Brasil surge como uma ótima opção para esse dinheiro em excesso.
Por isso, Holanda Filho considera difícil que a taxação dos empréstimos externos de até três anos contenha o fluxo de dinheiro externo que está buscando alternativas de investimento. “Essa medida vai ser inócua porque há um volume de recursos disponíveis no mundo a uma taxa muito baixa”. Para ele, nem uma eventual redução dos juros no Brasil faria alguma diferença, no momento.
O economista Luiz Roberto Cunha, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, disse à Agência Brasil que o governo brasileiro está certo quando adota medidas para conter a valorização do real. “Existe uma liquidez muito forte nas economias desenvolvidas. Estão injetando recursos em função das suas crises. As moedas desses países estão se valorizando. E, obviamente, o Brasil tem que tomar algumas medidas. O mundo inteiro está tomando”. Mesmo assim, Cunha não crê que a ampliação do prazo de empréstimos externos sujeitos à alíquota de 6% de IOF consiga alterar a questão cambial, “dado que os fluxos [de capitais] são muito grandes”.
Já o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Modenesi, elogiou as medidas anunciadas hoje. "São bem-vindas, o ministro [Mantega] está indo no caminho certo”. Para ele, a equipe econômica está se antecipando à tendência de aprofundamento da valorização do real, por causa de dois fatores: o arrefecimento temporário da crise europeia e o empréstimo de 529 bilhões de euros concedido pelo Banco Central Europeu, em condições muito favoráveis, a 800 bancos do continente.
“Com o excesso de liquidez, [os investidores] vão buscar ativos de mais risco que tenham mais rentabilidade, particularmente no Brasil. A gente continua tendo uma taxa de juro que é muito alta, totalmente fora do padrão mundial”, disse ele à Agência Brasil.
Edição: Vinicius Doria