Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A concentração da pauta exportadora brasileira em produtos básicos cotados internacionalmente (commodities) e a queda da participação dos produtos manufaturados nas vendas externas devem ser vistas como alerta para a economia do Brasil, na opinião de técnicos do Grupo de Análise e Previsões (GAP) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para Roberto Messenberg, coordenador da equipe de estudos responsável pelo boletim Conjuntura em Foco, divulgado hoje (15), no Rio de Janeiro, a falta de competitividade da indústria nacional pode comprometer o crescimento econômico do país.
Messenberg defendeu a elevação de taxas de investimento do setor produtivo com a participação ativa do setor público. Para o economista, o governo precisa estabelecer regras de política fiscal que criem um ambiente industrial atraente. Segundo ele, no Brasil, o empresário não olha para o mercado na hora de definir os planos de investimento, mas para o setor público.
“O setor privado não vai entrar através dos mecanismos clássicos de mercado. Você tem que dar garantia, tem que investir, fazer parcerias. E é esse movimento que está faltando para a economia brasileira deslanchar”, diagnosticou o economista.
Para Messenberg, a economia brasileira está progredindo, mas é preciso mudar algumas estratégias. “Não podemos ficar esperando que o brasileiro consuma menos para criar poupança, para que essa poupança seja convertida em investimentos. Isso só vai causar uma redução do nível da atividade econômica e nos perpetuar numa armadilha que nós mesmos nos colocamos”.
Enquanto a fatia de exportações de commodities aumentou de 29,3% para 36% da pauta total, entre 2005 e 2011, a venda de produtos industrializados caiu de 55,1% para 47,8%. Em 2010, o Brasil respondeu por apenas 0,69% do volume mundial das vendas externas de manufaturados, cinco anos depois de ter atingido o pico de 0,81% (em 2005). Para técnicos do GAP, os números podem significar prejuízo para a indústria nacional no médio e longo prazos.
O grupo de pesquisa também destacou as reduzidas taxas de investimento na economia verificadas desde a implantação do Plano Real, em 1994, em patamares inferiores a 20% do Produto Interno Bruto (PIB). “O governo tem uma programação, mas a execução é fundamental e não é simples. Tem que fazer as regras, as normas, as licitações, priorizar as áreas, montar uma equipe bem organizada e coordenada. Isso leva tempo”, avaliou o economista.
Messenberg também defendeu a criação de mecanismos de financiamento doméstico como uma forma de garantir maior autonomia na captação de recursos. “A gente não pode ficar dependendo exclusivamente do capital de longo prazo do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] e de captações lá fora [no exterior]. Isso pode avançar”. O coordenador do GAP também defendeu o fortalecimento do mercado de trabalho e criticou as linhas econômicas que apontam uma relação negativa entre o incremento no número de ocupações formais e a inflação.
Edição: Vinicius Doria