Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A empregada doméstica Camila Dantas Sales, 28 anos, está há dois dias com sintomas de infecção urinária. Sente dores na região do baixo abdômen e percebeu uma coloração avermelhada na urina. Preocupada, a moradora da região administrativa de Samambaia procurou a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da cidade, mas não conseguiu assistência médica. A unidade de Samambaia é a única UPA a funcionar em todo o Distrito Federal (DF), apesar da promessa do governo de inaugurar 14, no total, ao longo de 2011.
“Ontem também não consegui atendimento porque não tinha médico. Dói muito”, reclamou a empregada doméstica que foi obrigada a procurar ajuda em um hospital em outra cidade do DF.
Na última segunda-feira (13), o Conselho Regional de Medicina (CRM) decretou intervenção ética na unidade. Segundo o órgão, a UPA apresenta deficiências como distribuição irregular de plantonistas; quantitativo médico insuficiente para continuidade do atendimento de forma ininterrupta; e sobrecarga de trabalho devido ao déficit de profissionais.
A equipe de reportagem da Agência Brasil esteve no local na manhã de hoje (16) e constatou que apenas um médico permanecia na UPA, mas atendia apenas casos de urgência e emergência, quando há risco de vida. Segundo funcionários da unidade, o quadro de plantonistas, normalmente, conta com dois profissionais de cada especialidade – clínica médica e pediatria.
A alternativa mais próxima aos moradores da área é o Hospital Regional de Samambaia. O problema é que no local também faltam médicos. A previsão era que o atendimento à população fosse normalizado apenas no período da tarde, já que dois médicos estão de licença e os únicos profissionais disponíveis – um cirurgião e um pediatra – cuidavam apenas das demandas da internação.
A auxiliar de limpeza Balbina Nogueira de Oliveira, 44 anos, procura atendimento para a filha grávida, desde ontem (15). Ela havia procurado ajuda em três hospitais antes de chegar ao de Samambaia. Em todas as unidades, o problema era o mesmo: falta de médico.
“Minha filha está para ganhar neném, está com encaminhamento feito pela médica do pré-natal, que pediu para internar. Ela sente dor e está perdendo líquido”, contou. A previsão inicial era que o bebê nascesse no último dia 6. Mas a jovem de 17 anos, grávida de mais de 38 semanas, ainda não conseguiu vaga.
O porteiro João Antônio de Sousa, 46 anos, cortou a cabeça na madrugada de hoje. Ele disse que não procurou a UPA porque sabia da interdição e, por isso, foi direto ao Hospital Regional de Samambaia. Ele conta que chegou ao local por volta das 6h, quando descobriu que atendimento seria demorado.
“Só me pediram para aguardar. A toda hora, dizem que o médico ainda não chegou. Já são mais de 11h e vou ter que esperar até as 15h. Se não tiver jeito, procuro outro local. O Hospital Regional de Taguatinga é o mais próximo”, contou.
Distante cerca de 20 quilômetros do centro de Brasília, Taguatinga passou a receber, desde o início da semana, a maior parte da demanda de pacientes que não conseguem atendimento em Samambaia. A superlotação era visível já na porta da unidade.
A diarista Rita Helena da Conceição, 48 anos, mora em Samambaia, mas precisou procurar ajuda médica no Hospital Regional de Taguatinga por causa de problemas no joelho. “Fui ao hospital de Samambaia e me mandaram para cá. Fui à UPA também, mas lá não tem médico.”
Já o mecânico Valdemir Alves dos Santos, 42 anos, chegou às pressas ao local para levar a cunhada que machucou a perna. “Moro em Samambaia, já passei pela UPA, pelo hospital regional e não tem atendimento. Vou tentar a sorte aqui. Vamos ver no que vai dar.”
Apesar das reclamações dos usuários e das constatações da reportagem da Agência Brasil no local, a Secretaria de Saúde do DF afirmou, em nota, que a "UPA de Samambaia permanecerá com o atendimento normalizado para casos de clínica médica". A secretaria informou ainda que casos de pediatria de médio e alto risco estão sendo encaminhados para o Hospital Regional da Asa Sul e para o Hospital Regional da Asa Norte. De acordo com a nota, "os demais casos, sem gravidade ou risco iminente, estão sendo orientados a procurar atendimento em centros de saúde ou demais hospitais da rede".
Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo