Flávia Albuquerque*
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, anunciou hoje (20) que a entidade pedirá uma audiência com a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, para a última semana de janeiro. O objetivo é falar sobre as barreiras às importações impostas pelo país vizinho e que restringem a entrada de produtos brasileiros.
Segundo Skaf, a avaliação dos membros da Fiesp que têm negócios com a Argentina é a de que esses problemas não são novos, mas, como o Brasil não é o único exportador para o vizinho do Mercosul, a mudança deveria ser voltada a outros mercados e não para um país do mesmo bloco.
A partir de 1º de fevereiro, a Receita Federal argentina passará a exigir informações prévias sobre todas as importações de bens de consumo. De acordo com a Fiesp, os detalhes ainda não estão claros, mas, a princípio, a medida atingirá todos os produtos brasileiros destinados ao mercado interno argentino. A Fiesp estima que 79% das exportações brasileiras devem ser afetadas.
No dia 11 deste mês, o governo argentino publicou, no correspondente ao Diário Oficial brasileiro, resolução instituindo a exigência de apresentação da Declaração Jurada Antecipada de Importação (Djai) pelos importadores de bens de consumo. Essa exigência dificulta a entrada de produtos estrangeiros no país vizinho. A medida também foi questionada pelos importadores argentinos. Um dia depois da publicação da nova norma, o governo brasileiro anunciou que iria cobrar explicações da Argentina sobre a decisão.
Segundo dados da Fiesp, o comércio entre os dois países em 2011 registrou recorde de US$ 39,6 bilhões, com um aumento de 17% com relação ao ano anterior. Para o Brasil, houve superávit de US$ 5,8 bilhões, 41% a mais do que em 2010.
“Independentemente de pressão em cima deles, o ideal é encontrarmos alguns caminhos criativos, como, por exemplo, em setores como nafta, petróleo e gás, além da indústria naval, onde os argentinos têm potencial ocioso. Na indústria naval, o Brasil está com todos os estaleiros tomados nos próximos dez anos. Então, não seria um sacrifício dar alguma abertura para que os argentinos pudessem fazer navios, considerando um índice de nacionalização. Isso poderia fazer uma compensação e, em troca disso, eles cuidam melhor das questões dos manufaturados”, disse o presidente da Fiesp.
Skaf ressaltou que a entidade tem conversado também com o governo brasileiro sobre a questão, e a ideia é procurar evitar que haja um prejuízo para as exportações brasileiras. Para ele, medidas como as da Argentina ferem o Mercosul. “É preciso ter regras, quando as coisas são feitas fora das regras é porque está havendo um desrespeito ao Mercosul. Não tenho a menor dúvida de que qualquer tipo de arbitrariedade enfraquece, sim, o bloco”, afirmou.
*Colaborou: Luciene Cruz
Edição: Lana Cristina