Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O aumento do salário mínimo para R$ 622 a partir de 1º de janeiro de 2012 vai causar algum impacto nas contas do governo, em função dos benefícios pagos pela Previdência Social. Dois terços dos benefícios têm o valor piso de um salário mínimo, o que significa R$ 18 bilhões, disse hoje (26) à Agência Brasil o economista João Sicsú, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para ele, no entanto, isso não refletirá negativamente no cumprimento das metas fiscais no próximo ano. “Eu não avalio que isso possa causar algum dano nas contas públicas. Essa é a trajetória do Brasil nos últimos anos”, declarou.
O aumento do salário mínimo alcançou um ganho em torno de 60% em termos reais, isto é, descontada a inflação, de 2003 até 2010. Enquanto isso, a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 60% para menos de 40% no mesmo período. “O déficit nominal do Brasil, que em 2002 era 4,5% do PIB, hoje é 2,5% do PIB”, completou.
Sicsú acredita que diante desses dados, “o suposto impacto negativo que o salário mínimo causa deve ser avaliado com mais reservas”. Observou que o aumento do mínimo gera mais demanda, compras e incentivo ao mercado, o que representa arrecadação para os três níveis de governo.
O economista Armando Castelar, coordenador da Área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), tem uma avaliação diferente do colega da UFRJ. Para ele, vai ser difícil para o governo cumprir as metas fiscais em 2012. Segundo ele, o valor do novo salário mínimo significará um impacto de cerca de R$ 22 bilhões nas contas públicas, principalmente por meio das aposentadorias. “Basicamente, dois em cada três aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) recebem o salário mínimo”. Castelar observou que o número, embora importante, já era conhecido pelas autoridades econômicas.
Castelar estimou que a dificuldade em cumprir as metas fiscais no próximo ano será ainda maior se o governo central retomar os investimentos, “como se espera”. O Oeconomista acrescentou que em 2011, além de não ter havido uma despesa desse vulto, os investimentos do governo ficaram muito contraídos. “Mas, com a proximidade da Copa do Mundo da Federação Internacional de Futebol (Fifa), há uma necessidade de construção de estádios, infraestrutura de aeroportos. Então, com o aumento do (salário) mínimo e a necessidade de se aumentar os investimentos, complica bastante”.
Para ele, também é importante destacar que em 2011 houve um aumento grande de receita devido ao crescimento do PIB no ano anterior. Já 2012 vai refletir uma economia que vai crescer menos em 2011, “menos da metade do que cresceu em 2010”.
De acordo com o economista da FGV, 2012 será um ano fraco. “Áreas que têm rendido muito dinheiro, como a de importações e de mercado de capitais, possivelmente não vão ter o mesmo aumento de arrecadação que tiveram este ano. Por isso, é bem difícil atingir a conta de superávit em 2012”, disse.
Amapliada às18h30
Edição: Aécio Amado