Danilo Macedo
Enviado Especial
Serra Pelada (PA)- Quando o garimpo de Serra Pelada foi fechado definitivamente pelo governo federal em 1992, milhares de garimpeiros ficaram sem rumo. A maioria voltou para as suas cidades de origem, outros, chamados de “teimosos”, continuaram na região, vivendo de bicos ou do que tinham juntado. Todos, porém, com a esperança de um dia se beneficiar do ouro que ainda permanece inexplorado no subsolo. No ano que vem, duas décadas depois, a esperança vai se tornar realidade para quase 40 mil deles que, associados a uma cooperativa de garimpeiros, terão participação de 25% no lucro da mineração que começará.
Alguns garimpeiros ainda não sabem como acessarão a parte a que têm direito. O mais provável é que ações equivalentes a 25% dos lucros do que será extraído sejam repartidas igualmente entre os trabalhadores, mas para isso é necessário que a multinacional apresente o último levantamento do potencial de exploração, o que deve ocorrer em janeiro. A certeza que ninguém esconde, no entanto, é que ainda há muito ouro a ser retirado, e dessa vez sem os riscos que enfrentaram na década de 1980, quando dezenas morreram na mina devido às condições precárias de trabalho
“Hoje, é uma expectativa diferente do passado, mas melhor, porque no passado aqui trabalhavam milhares de garimpeiros, mas quem pegou ouro mesmo, em abundância, não chegou a 0,5%. Mas, atualmente, a lei do cooperativismo diz que são direitos iguais”, disse José Sobrinho, de 71 anos, um dos poucos “teimosos” que permaneceram em Serra Pelada.
José Rodrigues, mais conhecido como Bola Sete, 81 anos, diz que cerca de 20 mil ex-garimpeiros já passaram dos 70 anos de idade. O veterano considera que seria melhor se os companheiros pudessem optar por receber sua parte em dinheiro, em vez de ações. “Velho quer o quê? Remédio para colesterol, pressão alta, diabetes, dor nos rins, no fígado, na coluna. O ideal seria a participação nossa em dinheiro. Mas nós vamos acatar porque, na lei do cooperativismo, a maioria decide”, disse.
Para Bola Sete, a retomada da exploração de ouro já deu uma nova cara à localidade e pode melhorar a vida de quem ficou. “Temos hoje, aqui dentro, mais de 20 empresas terceirizadas trabalhando para a mina. Temos dez açougues funcionando. Dez!”, repetiu entusiasmado.
Outros aspectos da Vila de Serra Pelada, no entanto, que chegou a abrigar 100 mil pessoas (hoje abriga apenas 6 mil moradores), permanecem como antes. Para chegar até lá, é preciso percorrer pelo menos 15 quilômetros de estrada de terra, e não há previsão para a chegada do asfalto. No único posto de gasolina da comunidade, o telhado é de palha e a bomba ainda é movida a manivela, como no início do século passado. As casas também são as mesmas de 20 anos atrás, de tábuas. Na entrada de algumas moradias, ainda estão as velhas placas indicando dormitórios.
Edição: Vinicius Doria