Brasília – De acordo com a consultoria Céleres, 82,7% da soja cultivada no Brasil já são transgênicas (dado de agosto). Na safra de milho colhida no inverno deste ano (chamada safrinha, de fevereiro a junho) os transgênicos chegaram a 80,4% da produção; e o algodão geneticamente modificado corresponde a 40%.
Segundo o agrônomo Jorge Attie, analista de biotecnologia na Céleres, a elevada aceitação de organismos geneticamente modificados (OGMs) pelos produtores tem a ver com a economia de gastos e facilidade de manejo. “O produtor enxerga economia de aplicações em herbicidas e inseticidas. Ele substitui herbicidas por um só, o que facilita o manejo”, por isso o agricultor brasileiro, “nunca restringiu a produção do transgênico”.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, concorda e acrescenta que “a transgenia é uma ferramenta para aumentar a produção e para aumentar o tamanho das nossas safras”. Segundo ele, o aumento da produtividade no campo e a inclusão de novas áreas para plantio dependem da tecnologia. “Temos que considerar que vamos ter de ocupar áreas não tradicionalmente agricultáveis, áreas que tenham um índice de chuvas menor; áreas não agricultáveis, menores, menos herbicidas”.
Na opinião de Marcio de Castro Silva Filho, do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), além do manejo e da produtividade, os transgênicos trazem vantagens para o meio ambiente. “Foram introduzidos nas plantas genes que as tornam tolerantes a moléculas de alguns herbicidas de classe toxicológica menos agressiva. Você passa a usar herbicidas que são menos agressivos ao meio ambiente e ao homem”, explica.
O presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Edilson Paiva, concorda com a avaliação. “Quem pensa em meio ambiente e produção de maneira sustentável vê que não há possibilidade de não usar esse tipo de tecnologia”.
Apesar da grande aceitação na lavoura, o uso de OGMs não tem unanimidade. Para o pesquisador do Laboratório de Engenharia Ecológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) José Maria Ferraz, os riscos “não valem a pena” uma vez que os transgênicos podem “reduzir a diversidade de alimentos”. Além disso, “tenta se vender vantagem que já existe na natureza”, disse se referindo às sementes que podem ser enriquecidas com nutrientes.
Gabriel Bianconi Fernandes, de uma organização não governamental (ONG) especializada em segurança alimentar AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, faz coro com Ferraz e diz que a expansão das lavouras transgênicas tem a ver com estratégias do mercado. “As sementes de transgênicos são fornecidas pelas mesmas empresas fornecedoras de sementes convencionais. À medida que elas vão lançando as transgênicas, vão tirando as convencionais do mercado”, apontou ao dizer que as sementes geneticamente modificadas são feitas para resistir aos agrotóxicos fabricados pelas empresas. “As empresa conseguem fazer venda casada”, aponta.
Polêmicas à parte, a projeção da consultoria Céleres é a de que as lavouras de soja geneticamente modificada cheguem a 30,4 milhões de hectares na safra 2019/2020 (hoje a extensão é 16,4 milhões de hectares). A área de milho passará no mesmo período de 4,3 milhões de hectares para 13,3 milhões de hectares. O algodão terá proporcionalmente a maior expansão: dos atuais 131 mil hectares para 2,1 milhões.
Atualmente, no Brasil, há cinco tipos de soja transgênica autorizados comercialmente pela CTNBio, 18 tipos de milho, nove tipos de algodão, um tipo de feijão, além de 14 vacinas e um micro-organismo (levedura).
Edição: Lílian Beraldo