Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Integrantes de sindicatos e líderes da indústria lançaram hoje (18), em um hotel em São Paulo, um manifesto defendendo juros menores, aumento da produção e mais empregos no país. Em seguida, os manifestantes caminharam em direção ao prédio do Banco Central (BC), na Avenida Paulista, onde fizeram um ato público. Entre as entidades participantes da manifestação, estavam a Federação das Indústrias do Estados de São Paulo (Fiesp), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Força Sindical e Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Segundo os organizadores, as entidades patronais e de trabalhadores que assinam o documento acreditam que reduzir a taxa de juros, deixando-a em um percentual igual às de outros países emergentes, é fundamental para garantir o crescimento do Brasil, com distribuição de renda e justiça social. “Os altos juros não consomem apenas recursos públicos. Também espalham para toda a economia o alto custo do crédito, fomentando o comportamento rentista e improdutivo, corroendo o poder de compra das famílias e drenando recursos do setor produtivo”, diz o manifesto.
De acordo com o texto, a crise financeira mundial, que começou em 2008, ainda não acabou. A Europa, os Estados Unidos e o Japão, assinala o manifesto, ainda não encontraram um caminho para a normalização da atividade econômica, que já atinge até a China, cujo ritmo de atividade produtiva foi reduzido. “Dado o quadro de incertezas que nos cerca, já passou da hora de caminharmos para taxas de juros mais próximas ao padrão internacional. Menor taxa de juros implica menor entrada de capitais especulativos, câmbio mais realista e competitivo, redução de custo de oportunidade do capital, maior equilíbrio das contas públicas e maior renda para as famílias.”
O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Márcio Pochmann, disse que o manifesto é um compromisso de todos com o Brasil e tecnicamente não há justificativas para que o país tenha taxas de juros no patamar atual. “Precisamos seguir na trajetória que vem sendo feita nos últimos anos e permitir que essa massa de recursos que está no sistema financeiro de forma improdutiva possa transitar para os investimentos produtivos”. Para Pochmann, não há nada que impeça o país de ter uma taxa de juros melhor, somente o medo de ousar.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, ressaltou que o movimento não está enfrentando “qualquer um”, mas o sistema financeiro cuja potência é maior. Entretanto, ele disse que chegou o momento de a sociedade se manifestar de fato e mostrar que não está mais disposta a aceitar taxas tão altas. “Se juntássemos o empresariado que tem coragem e topássemos fazer uma paralisação total no dia em que o Banco Central ser reunirá, poderíamos ver realmente o que o governo pensa”.
Segundo o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, juros mais baixos são de interesse de toda a população, que não pode mais permitir a especulação. “Faz 16 anos que os juros do Brasil são um absurdo. O volume de salários sem encargos e de juros é parecido. Isso é injusto. Não sou contra salário bom, pois salário bom significa bem-estar, qualidade de vida, consumo, mais produção.”
Matéria ampliada às 16h42 - Edição: João Carlos Rodrigues