Risco de epidemia no Rio de Janeiro preocupa especialistas em relação as crianças

04/09/2011 - 10h49

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Diante da possibilidade de uma das maiores epidemias de dengue no próximo verão, no estado do Rio, especialistas demonstram preocupação com as crianças. Segundo o coordenador da área de medicina intensiva do Instituto D'Or e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Fernando Bozza, menores de 15 anos não estão imunes aos vírus que devem circular no período.

"A preocupação para essa epidemia é a população pediátrica. Observamos ao longo dos últimos anos, especialmente a partir de 2008, um agravo significativo de casos graves nesse grupo. Pensando no pior cenário, de 1 milhão de doentes, é preocupante porque o número de leitos pediátricos é bastante limitado", alertou o médico, durante entrevista na 6º Jornada Rede D'Or.

Indivíduos nascidos depois de 1986 nunca foram expostas aos vírus tipo 1 - que chegou ao Rio em 1986 - e ao tipo 4, novidade para todos os residentes, em 2012. Em 2002 e em 2008, circularam as variações tipo 2 e tipo 3, imunizando boa parte da população, mas que ainda podem deixar vítimas.

"Vivemos no Brasil uma situação que é chamada hiperendêmica. Temos a circulação de três sorotipos, praticamente, no país inteiro", explicou Bozza. "A circulação depende da quantidade de pessoas que não são imunes àquela variedade. Quem teve dengue tipo 1 em 1986 está imune a essa variação, mas não ao tipo 4. As crianças não são imunes a nenhum dos dois ".

O diagnóstico rápido de casos graves pode ajudar a diminuir a letalidade do dengue no estado, uma das maiores no país, segundo o Ministério da Saúde. A doença matou entre janeiro e junho, 85 pessoas - 157 % a mais que no mesmo período de 2010 e está acima de taxas verificadas em países asiáticos com a Índia, disse o pesquisador.

Para Bozza, enfrentar a doença requererá o combate ao mosquito transmissor por parte da população, mas também diagnóstico e tratamento imediato, que dependerá do esforço dos médicos e dos gestores de saúde. O pesquisador defende a criação de protocolos de atendimento e capacitação dos profissionais de saúde da rede pública e privada, no próprio local de trabalho.

"Muita vezes quando se recebe um paciente grave, percebe-se que ele tinha sinais de alerta há dias, passou por um hospital, por uma emergência e ainda não tinha sido tratado".

Durante a semana passada, a prefeitura do Rio decretou estado de alerta para doença e anunciou um pacote de medidas. Entre elas, o aumento de visitas a residências, uso de 40 carros fumacê e a instalação de 30 pontos de hidratação de doentes, sendo que dez funcionarão 24 horas. Imóveis fechados e abandonados também não escaparão da vistoria de agentes de saúde.
 

Edição: Rivadavia Severo