Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Uma exposição inaugurada hoje (1º) na Biblioteca Nacional resgata a contribuição cultural de um segmento da imprensa alternativa editada durante a ditadura militar. Com a mostra de fanzines Os Alternativos dos Alternativos – da Poesia Marginal ao Anarcopunk, a biblioteca comemora o Dia da Imprensa, celebrado em 1º de junho. A data tem origem na criação do Correio Braziliense, o primeiro jornal não oficial do país, fundado por Hipólito da Costa em 1º de junho de 1808, em Londres, na Inglaterra, para fugir da censura real à imprensa no Brasil.
A exposição reúne impressos da chamada Geração Mimeógrafo, que se valia de uma tecnologia hoje em desuso para publicar, de forma extremamente artesanal, poesias e outros gêneros literários, manifestos e textos de protesto. Movimento cultural que marcou a década de 70 do século passado, com desdobramentos nos anos 80, a Geração Mimeógrafo revelou poetas como Geraldo Carneiro, Waly Salomão, José Carlos Capinam, Torquato Neto, Roberto Piva, Chacal e Leila Miccolis, entre outros.
“É um tipo de documentação rara hoje em dia, pelo caráter rudimentar de sua produção. Por causa disso, foi relegada até mesmo por uma instituição como a Biblioteca Nacional”, afirma Bruno Brasil, técnico em documentação da biblioteca e responsável pela seleção do material para a mostra. Segundo ele, a exposição deriva do projeto, iniciado em 2006, de mapear toda a imprensa alternativa editada ao longo dos “anos de chumbo”.
Bruno Brasil destaca o mérito de um dos poetas dessa geração, Aricy Curvello, que também tem obras expostas na mostra. “Ele reuniu durante anos mimeógrafos poéticos e acabou doando o acervo à Biblioteca Nacional”, diz. Outra contribuição importante para organizar a exposição foi um catálogo sobre imprensa alternativa lançado em 1986 pela Rioarte (órgão da prefeitura do Rio), de autoria de Leila Miccolis, também poetisa da Geração Mimeógrafo.
Nos anos 80, uma parte dos poetas de mimeógrafo passou a flertar com uma nova cultura, também marginalizada, o movimento anarcopunk. Conhecidas como fanzines, as publicações reproduzidas em máquinas de xerox continham, além de poesias, quadrinhos e manifestos políticos.
Para o organizador da mostra, o baixo custo de produção constitui um paralelo entre a literatura produzida em mimeógrafos e fanzines e a que é criada pela geração atual, em blogs, sites e redes sociais. “Naquela época, o custo de rodar um mimeógrafo e distribuir, gratuitamente ou por um preço baixo, era muito mais barato do que o de imprimir numa gráfica . Hoje em dia, o custo de criar um site, um blog ou veicular a literatura nas redes sociais é praticamente zero”, compara Bruno Brasil.
A exposição fica em cartaz até 5 de agosto e pode ser vista de segunda a sexta-feira, das 9h às 20h, e aos sábados, das 10h às 15h. A Biblioteca Nacional fica na Avenida Rio Branco, 219, na Cinelândia, centro do Rio. A entrada é franca.
Edição: Lílian Beraldo