Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A decisão do governo de suspender a produção e distribuição de kits de combate à homofobia nas escolas públicas de ensino médio pegou de surpresa os movimentos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) e educadores. Para a socióloga Miriam Abromovay, que pesquisa o tema da violência nas escolas, o recuo do governo diante da pressão da bancada religiosa do Congresso Nacional é um “passo atrás”.
“É uma pena. Avançou-se muito nesse debate [dos direitos da população LGBT], e o Brasil teria dado um passo muito grande se o kit fosse aprovado e levado às escolas, como se pensava. Vivemos em uma sociedade homofóbica, e a escola reproduz isso no seu cotidiano”, diz Miriam, que é pesquisadora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).
Um estudo coordenado por ela e divulgado em 2010 indicava que, nas escolas públicas do Distrito Federal, 44% dos estudantes do sexo masculino afirmaram que não gostariam de estudar com homossexuais. Entre as meninas, o índice era 14%. “Essa discriminação causa um grande sofrimento ao aluno. A escola não pode ficar de fora do debate porque ela é a principal instituição social com a qual crianças e jovens têm contato. É lá que se de discutir e falar sobre a diversidade. Não falar sobre o que existe na nossa sociedade é negar a diversidade”, ressalta.
O kit de combate à homofobia foi elaborado por entidades de defesa dos direitos humanos e da população LGBT a partir do diagnóstico de que falta material adequado e preparo dos professores para tratar do tema. Ele era composto por cadernos de orientação aos docentes e vídeos que abordavam a temática do preconceito. O material deveria ser distribuído a 6 mil escolas de ensino médio.
A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) informou que não irá se pronunciar sobre a suspensão dos kits antes de ser oficialmente comunicada. “Quero crer que estamos com um governo aliado que é contra a homofobia e contra a violência”, disse Toni Reis, presidente da entidade, à Agência Brasil.
Apesar da pressão dos parlamentares da bancada religiosa, o ministro da Educação, Fernando Haddad, tinha afirmado na semana passada que o ministério não tinha decido suspender ou alterar o material, mas que os deputados poderiam participar dos comitês técnicos que avaliariam a publicação.
Edição: Nádia Franco