Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Cerca de 100 atendimentos foram prestados desde o início de março passado por equipes de psicólogos e psiquiatras que aderiram voluntariamente ao trabalho de assistência à saúde realizado pela Cruz Vermelha de Teresópolis em apoio às vítimas das enchentes de janeiro. Até o momento, o atendimento gratuito às pessoas com trauma é feito nos fins de semana por 30 profissionais das cidades do Rio de Janeiro, Viçosa (MG) e Volta Redonda (RJ).
O presidente da Cruz Vermelha local, Herculano Abrahão, disse à Agência Brasil que a necessidade maior é por médicos psiquiatras voluntários, uma vez que há casos em que existe necessidade de medicação, além do tratamento psicológico. Quatro pacientes atendidos, inclusive, já foram encaminhados ao serviço psiquiátrico da rede municipal de saúde, informou.
Os surtos psicóticos e depressivos ocorrem tanto em adultos quanto em crianças. É o chamado estresse pós-trauma, que pode levar ao suicídio. A ação da Cruz Vermelha de Teresópolis é desenvolvida especialmente nas partes mais remotas da cidade. “Nós estamos tentando tratar, dessensibilizar o trauma”, disse.
Segundo Abrahão, os problemas de depressão estão sendo percebidos com mais gravidade na zona rural, mais afetada pela tragédia de janeiro, nas localidades de Santa Rita e de Vargem Grande, esta localizada na estrada Teresópolis-Friburgo. “Porque são pessoas que têm bem menos acesso aos serviços de saúde, especialmente o serviço de saúde mental. Essas pessoas, provavelmente, são mais suscetíveis a algum tipo de distúrbio”.
Para levar os profissionais às áreas mais remotas atingidas pela enxurrada de janeiro, a Cruz Vermelha depende de voluntários que possam disponibilizar carros com tração 4 por 4. O trabalho de assistência à saúde mental das vítimas da tragédia não tem prazo para terminar.
O pedreiro Marcelo Pires, casado, pai de três filhos com idades de 18, 16 e oito anos, enfrenta no momento o problema de depressão da esposa Valéria. A família está alojada no Abrigo Recomeçar, da prefeitura, e recorreu à rede municipal de saúde em busca de atendimento para Valéria. “O médico que a atendeu disse que ela está com síndrome de pânico. Na última sexta-feira (8), ela começou a tomar o remédio e passa a maior parte do tempo dormindo”.
A família de Marcelo perdeu todos os bens e a casa onde morava, na localidade de Campo Grande, no caminho entre Teresópolis e Petrópolis, durante as chuvas do início do ano. Ele está desempregado. Fez a inscrição no Sistema Nacional de Emprego (Sine), mas ainda não foi chamado para nenhum trabalho. Marcelo Pires afirmou que, até agora, não há perspectiva de novas casas para os desabrigados.
Edição: Graça Adjuto