Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Buscar estratégias para enfrentar o luto e, num momento posterior, promover um trabalho, com as crianças que sobreviveram à tragédia, de celebração da vida. A opinião é da psicóloga Dirce Maria Navas Perissinotti, do Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência (Prove), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), para quem a tragédia da Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio, mostra o quanto a própria escola e a comunidade escolar terão papel importante na superação e no enfrentamento da dor.
“A escola é o meio em que a gente desenvolve todas as nossas relações sociais e tem uma função extremamente importante nesse acolhimento da dor e no desenvolvimento do enfrentamento. Então, é o momento em que essa comunidade periférica da escola entra para se solidarizar e reconstruir essa sociedade”, avalia a especialista.
Em entrevista à Agência Brasil, Dirce ressalta que o ambiente escolar, por meio de suas regras e pelo fato de ser um lugar onde há espaço para comemorações de datas importantes, permite que o ser humano cresça como ser social. “Por isso, a escola tem uma função extremamente importante na reconstrução da vida dessas pessoas”, afirma.
Ela sugere que, com o apoio da escola, os estudantes promovam encontros para falar da perda dos amigos e de como isso os afetou. “Essa idade em que os adolescentes [da escola Tasso da Silveira] se encontravam é uma idade onde eles estão finalizando a elaboração do seu desenvolvimento psíquico. É uma fase em que eles se apoiam muito no outro para ter seus parâmetros. Por isso, se agregam em grupos.”
Devido a essa característica gregária, os adolescentes devem estar unidos para vivenciar a perda, mas também, num momento posterior, comemorar a vida de quem sobreviveu ou superou a tragédia. “Isso daria a essas pessoas a oportunidade de retomarem a vida numa direção positiva. Elaborar o luto é importante, mas comemorar a vida também é importante”, observa.
Para a psicóloga, é importante que as crianças e seus pais tenham um tratamento psicológico adequado para superar esse momento. “A pessoa que é pega de surpresa por alguma coisa à qual não se sente preparada para reagir sofre, num primeiro momento, daquilo que chamamos de estresse agudo, que dura, em média, de um a três meses”.
É o acolhimento das famílias e o apoio de pessoas próximas que podem ajudar a superar esse momento, segundo Dirce. Nesse período, a pessoa vai tentando dissolver memórias físicas e psíquicas fortes. “Essas memórias físicas e psíquicas levam um tempo para serem digeridas, semelhante a um computador, quando fazemos sua desfragmentação. Na memória, há um processo que ocorre, principalmente, durante o sono, quando fazemos uma seleção dos conteúdos que devemos guardar ou jogar fora. O trauma ocorre quando esse processamento da memória não é possível acontecer de forma razoável”, explica.
Em alguns casos, de acordo com Dirce, a pessoa tem dificuldades para superar o estresse agudo e é necessário um acompanhamento psicológico mais longo. “Se a pessoa não melhorar, aí, sim, a gente adota uma conduta de psicoterapia mais a longo prazo, porque outros fatores estão colaborando para que o caso se agrave.”
As intervenções mais breves, segundo ela, podem durar entre 20 e 40 sessões, mas os tratamentos a longo prazo podem ultrapassar 50 sessões.
Edição: Lana Cristina