Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As crianças que testemunharam hoje (7) o assassinato de colegas por um ex-aluno em uma escola municipal do Rio de Janeiro vão precisar de tempo e ajuda psicológica para retomar o cotidiano. O período de luto e de readaptação pode variar entre as crianças e depende das condições psicológicas e psiquiátricas e dos parentes de cada uma, segundo especialistas.
O psiquiatra e professor do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antonio Carvalho de Ávila Jacintho, disse que é preciso respeitar o luto para que as crianças e os adultos que presenciaram a tragédia possam tentar assimilar o ocorrido.
“A escola precisa ficar fechada para que esses jovens possam elaborar o que aconteceu. Sempre que passamos por uma tragédia, principalmente as coletivas, isso desperta uma comoção maior, é necessário um tempo para tentar elaborar e, na medida do possível, entender quais as motivações para o fato”.
Após o trauma é possível que as crianças apresentem sintomas de estresse e depressão, de acordo com o médico, mas nem todas reagirão da mesma forma nem é possível prever o tempo que cada uma levará para a retomar a vida normal.
“As respostas de cada criança são muito particulares. Uma criança que tem funcionamento mental mais próximo da normalidade e estrutura familiar mais presente, terá prognóstico de reação melhor diante dessa situação traumática. Uma criança que tenha fragilidade, fobia, algum tipo de transtorno, pode ter maior dificuldade em elaborar esse processo. Mas para ambas é preciso um tempo para elaborar o que aconteceu”, compara o médico.
“As pessoas reagem de maneiras diferentes. Algumas paralisam, algumas são mais sensíveis. Mas pouco a pouco vão voltar ao que a gente chama de normalidade, de cotidiano normal”, acrescenta a professora do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade São Paulo (USP), Ivonise Fernandes da Mota.
Além do atendimento psicólogo e psiquiátrico paras as crianças, os adultos envolvidos na tragédia também precisarão de suporte para superar o trauma, segundo Jacintho. “A escola também vai precisar de receber algum tipo de ajuda para que possa enfrentar essa situação retomar a normalidade. Os professores, diretores, pessoas no comando vão ter que ter assistência para poderem elaborar, lidar com essa situação”.
O episódio, na avaliação do especialista da Unicamp, deve estimular o debate da sociedade sobre valores, principalmente entre os jovens. “Vivemos uma cultura onde a violência tem sido bastante valorizada, há identificação com figuras muito violentas. Entre os jovens, ser violento é um símbolo de força, de poder, de virilidade, de potência”.
Para Ivonise Mota, a tragédia, por mais traumática que seja, não pode ser esquecida. “Esquecer pode ser um alívio, mas, nessa situação, é necessário que a memória seja preservada e que a gente possa refletir com bastante seriedade. Estamos sujeitos a muitas violências, de várias ordens. Precisamos parar e refletir sobre o que isso significa em um nível mais amplo, de comunidade, de sociedade”.
Edição: Aécio Amado