Ameaça nuclear muda rotina e faz brasileiros planejarem retorno

18/03/2011 - 17h53

Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Há sete dias, o Japão vive em alerta constante. A possibilidade de novos terremotos, tsunamis e, mais recentemente, da radiação obrigou os japoneses a mudar sua rotina e se adaptar à nova realidade imposta pelo maior desastre natural da história do país.

Essa mudança afetou também a vida dos brasileiros que vivem no país. Mesmo os que moram na capital Tóquio, longe da área mais atingida pelos tremores e da usina nuclear cuja estrutura foi abalada, sentem os efeitos da tragédia natural e nuclear. Pensam, inclusive, em retornar ao Brasil caso todas as ameaças não sejam minimizadas pelo trabalho do governo japonês.

Elisabete Tachibana é uma das brasileiras que moram em Tóquio e já tem um “plano de fuga” em casos de novos tremores ou agravamento da contaminação radioativa. Ela vive no Japão desde 1987. É casada com um japonês e tem dois filhos. Tudo isso, porém, não impede que ela cogite deixar o Japão para proteger a ela e a sua família.

“A gente já conversou. Todos [da família] sabem que, se as coisas não melhorarem, nós vamos sair de Tóquio”, afirmou Tachibana, em entrevista por telefone à Agência Brasil. “Ou vamos nos mudar para o Sul ou então teremos que ir todos para o Brasil.”

Segundo ela, o medo da radiação vinda da Usina de Fukushima‎ é o que mais preocupa. Tóquio, disse ela, é preparada para terremotos e tsunamis. Contudo, ninguém sabe como se prevenir contra a radiação, que é invisível e está espalhada pelo ar.

“Quando o vento vem do Norte, eu deixo as janelas fechadas, não estendo roupas e só saio de casa de máscara”, contou Tachibana, sobre alguns cuidados que ele tem tomado desde os acidentes nucleares. “O governo tenta deixar a gente tranquilo, mas é difícil”

O brasileiro Marcelo Sudoh também vive em Tóquio e está apreensivo quanto à ameaça nuclear. Ele disse que as notícias sobre o nível de radiação nas cidades japonesas parecem ser desencontradas e, portanto, não confiáveis. Isso colabora para o temor da população.

“A gente não sabe se a imprensa está passando todas as informações que deveria ou mesmo se eles têm acesso a todas as informações”, afirmou Sudoh. “A gente procura saber do trabalho da equipe enviada pelos Estados Unidos para resfriar a usina. Se eles continuam aqui, é porque o nível de radiação não é tão alto. Se deixarem o país, é porque a radiação piorou.”

Sudoh disse também que, para não serem pegos desprevenidos por qualquer outro acontecimento, os japoneses têm corrido aos supermercados para estocar comida. A gasolina também está em falta nos postos de combustível e os trens e metrôs têm circulado em horários reduzidos devido ao racionamento de energia elétrica.

Apesar de tudo isso, Sudoh disse que tenta manter a serenidade e sua rotina diária. Diferentemente de Elisabete Tachibana, Sudoh ainda não pensa em retornar ao Brasil. “Não pretendo voltar. Só se a situação ficar insustentável. Por enquanto, sigo aqui.”

 

Edição: Aécio Amado