Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
O Ministério das Relações Exteriores não planeja, por enquanto, uma retirada em massa de brasileiros que se encontram no Japão. Mesmo após o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) declarar preocupação com a séria situação da Usina Nuclear de Fukushima, onde ocorreram explosões e vazamento de material radioativo, o governo brasileiro não divulgou nenhuma estratégia para resgatar a comunidade brasileira no país em caso de acidente nuclear grave.
De acordo com o Itamaraty, enquanto as autoridades japonesas e a própria Aiea não comunicarem que há necessidade de retirar as pessoas do país, atingido por um terremoto de 9 graus na escala Richter seguido de um tsunami e que está enfrentando problemas com as usinas atômicas, o Brasil não enviará aviões ou navios para resgatar os brasileiros.
A decisão do governo brasileiro preocupa o nipo-brasileiro Hugo Takeshi Sakamoto, que já morou no Japão e retornou ao país nipônico há cerca de um mês. Ele disse que se sente desorientado e preocupado com o que considera um “excesso de tranquilidade” das autoridades e da mídia japonesas. “Eles estão muito calmos, dizem que está tudo bem, mas eu sinto que não está. E ninguém nos orienta. Seria melhor que fizessem isso antes que alguma coisa mais grave acontecesse”, disse em entrevista à Agência Brasil.
Takeshi tem dois irmãos morando no Japão, ambos casados e com filhos no país. Um deles, Massahiro Sakamoto, mora na cidade de Fukushima e precisou ser resgatado quando a radiação da usina atômica, que fica a cerca de 30 quilômetros da casa dele, começou a vazar. “Nós fomos buscá-lo. Levamos dois dias para chegar lá, a estrada está muito cheia, tem muita gente saindo de lá e muita gente que está indo buscar os parentes. Quando a gente vai, não sabe se vai conseguir voltar porque não há combustível para vender”, contou o brasileiro. Massahiro está agora hospedado com a família na casa da irmã, em uma cidade próxima a Tóquio. Em função das dificuldades de comunicação com o Japão, a reportagem da Agência Brasil não conseguiu contato telefônico com ele.
Ainda de acordo com Takeshi, os brasileiros se ressentem da falta de informações em português, uma vez que nem todos que estão lá dominam a língua local. Ele diz que ligou para o consulado brasileiro e ouviu que deve seguir as orientações do governo japonês. Mas ele alega que nem Brasil nem Japão dizem o que deve ser feito em caso de um vazamento grave de radiação.
“Eu tenho só aquelas máscaras cirúrgicas fininhas em casa. Vedei as janelas e estamos evitando tomar banho porque começou a chover e sabemos que a radiação já chegou a Tóquio, então estamos com medo de a água ter sido contaminada. Mas eu não sei o que fazer se houver uma explosão na usina. Devo cavar um buraco e me esconder embaixo da terra, me trancar no banheiro? Ninguém diz nada sobre isso”, alegou o brasileiro.
Ele conta ainda que o preço das passagens para sair do Japão triplicou e que não há vagas no voos programados para os próximos 20 dias com destino aos Estados Unidos, onde já morou, ou ao Brasil. Apesar disso, ele diz que virá para o país assim que for possível e que os sobrinhos também devem deixar o Japão. “Minha irmã quer tirar os filhos dela daqui, eles devem ir para a casa da minha mãe em Minas Gerais”.
O Itamaraty orienta os brasileiros a acompanhar a página do consulado e da embaixada brasileira na internet. As informações em japonês têm sido traduzidas para o português e a página é atualizada constantemente.
Edição: Vinicius Doria