Projeções do FMI para contas públicas brasileiras não incluíram cortes no Orçamento

03/03/2011 - 16h25

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – As projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentadas no início do ano, que previam o descumprimento da meta de superávit primário em 2011, não levaram em conta o corte de R$ 50,1 bilhões no Orçamento, disse hoje (3) o diretor-gerente do organismo internacional, Dominique Strauss-Kahn. Depois de se reunir com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ele afirmou que as próximas projeções do FMI trarão avaliação diferente das contas públicas brasileiras.

Strauss-Kahn admitiu que a metodologia usada pelo FMI provocou ruídos, mas disse que o fundo só poderia se basear nos números de que dispunha em janeiro. “Quando fazemos projeções ao longo do ano, só levamos em conta o que foi anunciado. Como o governo não tinha tomado nenhuma medida [até aquele momento], vimos o risco de deterioração das contas públicas brasileiras com o que tínhamos em mão”, esclareceu.

O diretor-gerente reconheceu, no entanto, que o FMI deveria ter incluído uma nota de rodapé para explicar que a projeção só era preocupante com a ausência de medidas. “Acredito que a nova projeção estará perfeitamente em linha com o esperado pelo governo. As ações foram anunciadas e as preocupações estão se atenuando”, acrescentou.

Em janeiro, o FMI liberou um relatório que constatou risco de descumprimento da meta de superávit primário em 2011. Na ocasião, o ministro Guido Mantega criticou o documento e afirmou que o relatório deve ter sido obra de algum “ortodoxo emperdenido” que trabalhava enquanto Strauss-Kahn estava de férias.

Sobre o corte recorde no Orçamento, Strauss-Kahn afirmou que o Brasil está na direção certa e que o país precisa arrefecer a economia para evitar o superaquecimento. “O desafio é ter crescimento sustentável ao longo do tempo, não crescer muito num ano e ter problemas no ano seguinte”, afirmou.

Em relação às manobras contábeis adotadas pelo Brasil nos últimos dois anos para reduzir o superávit primário (economia de recursos para pagar os juros da dívida pública), o diretor-gerente do FMI evitou fazer uma avaliação específica sobre o país. Ele disse, no entanto, que o fundo segue uma metodologia própria e que as particularidades de cada país não atrapalham a comparação de dados entre as economias do mundo. “Alguns países são mais criativos que outros, mas estamos habilitados a gerenciar esses problemas”, declarou.

Edição: Nádia Franco