Mubarak diz que fica no poder até o fim do mandato

10/02/2011 - 18h37

Da Agência Brasil*

Brasília – Depois de 17 dias de protestos intensos contra o governo, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, de 82 anos, anunciou que ficará no cargo até a transmissão do poder, em novembro. As eleições presidenciais no país serão realizadas em setembro.

A decisão tem a ver com "o presente e o futuro do Egito", disse Mubarak em discurso na TV estatal. A renúncia de Mubarak, que está no poder desde 1981, quando foi assassinado o então presidente Anwar El Sadat, era esperada para hoje (10).

A possibilidade de renúncia foi levantada inclusive pelo primeiro-ministro Ahmed Shafiq, que indicou, nesta tarde, que o presidente pensava em abrir mão do poder. Hossan Badrawi, secretário-geral do partido do presidente (Partido Nacional Democrático), disse que Mubarak avaliou os “pedidos dos manifestantes” em nome da estabilidade do país.

A crise no Egito agravou-se com a pressão interna e o apoio externo às reivindicações dos vários segmentos da sociedade. Os oposicionistas reclamam do autoritarismo, denunciam desvio de recursos públicos, violação dos direitos humanos, falta de liberdade de expressão, censura e agravamento da situação econômica do país.

O índice de desemprego no Egito é um dos mais elevados do mundo árabe e o número de famílias abaixo da linha de pobreza também é expressivo. Os trabalhadores reivindicam ainda a criação de uma federação sindical independente.

Nos últimos dias, várias categorias profissionais anunciaram greve por tempo indeterminado: funcionários do setor de transportes públicos, médicos e profissionais de saúde e técnicos das áreas têxtil, de mineração e petróleo, entre outros. Os grevistas se uniram aos manifestantes concentrados na Praça Tahrir, no Cairo, e ampliaram os protestos para várias ruas da capital egípcia.

As áreas próximas ao Parlamento e ao gabinete da Vice-Presidência da República foram dominadas pelos manifestantes.

Organizações de defesa dos direitos humanos acusam o governo de intensificar a repressão aos protestos, aumentando o número de detenções de ativistas de oposição. De acordo com as Nações Unidas, pelo menos 300 pessoas foram mortas e cerca de 3 mil ficaram feridas nos confrontos entre manifestantes e autoridades policiais desde que começaram os protestos.

A organização não governamental Repórteres Sem Fronteira informou que 75 profissionais de imprensa de várias nacionalidades sofreram censura e agressão no Egito. Os repórteres brasileiros Corban Costa, da Rádio Nacional, e Gilvan Rocha, da TV Brasil, passaram 18 horas presos, tiveram os olhos vendados e equipamentos apreendidos e depois foram expulsos do Egito. O repórter Luiz Antônio Araújo, do jornal Zero Hora, foi agredido e roubado.

O governo brasileiro reagiu e, em nota, o Ministério das Relações Exteriores repudiou o tratamento dado aos jornalistas. Em recente visita à Argentina, a presidenta Dilma Rousseff defendeu que o governo Mubarak atenda aos apelos do povo egípcio e disse torcer para que ele seja democrático.

*Com agências internacionais//Matéria alterada para correção de informação. O título também foi modificado