Setor de serviços deve pressionar a inflação, diz economista

27/01/2011 - 17h26

Alana Gandra

Repórter da Agência Brasil

 

Rio de Janeiro - A grande pressão na inflação em 2011 virá dos serviços, disse hoje (27) a economista Maria Andréia Parente, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “O maior foco de pressão que a gente tem na inflação é o setor de serviços”.

 

Ela afirmou que serviços são um fator de maior preocupação na inflação porque, quando se analisa a série histórica, percebe-se que eles têm um comportamento descolado da realidade. Trata-se de um conjunto de preços que se mantém em um nível elevado, que não se consegue baixar.

 

O boletim Conjuntura em Foco, divulgado pelo Ipea em sua primeira edição deste ano, mostra que os serviços se mantiveram em um patamar elevado nos últimos anos, passando de 6,4% em 2009 para 7,6% no ano passado. O grupo serviços tem peso de 30% dentro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

 

Desagregando os serviços na variação do IPCA até dezembro de 2010, o que se vê é que as maiores pressões ocorreram nos serviços residenciais, saúde e serviços pessoais. Para isso contribuíram alguns fatores, disse Maria Andréia. Os principais foram os aumentos reais da renda do salário mínimo, a demanda mais aquecida na economia que possibilita a absorção desses reajustes e o custo de mudança de um prestador de serviço para outro. “O mercado de trabalho aquecido ajuda a puxar os preços do setor de serviços.”

 

Segundo a economista do Ipea, a tendência é que os rendimentos reais das pessoas comecem a desacelerar um pouco em 2011, contribuindo para o custo dos serviços diminuir. Isso, porém, não se dará de forma rápida, destacou. “Se a queda dos serviços acontecer, vai ser de forma gradativa. Então, durante algum tempo ainda a gente vai ter de conviver com esse fator de pressão sobre os preços”.

 

Para Maria Andréia, o cenário de inflação ainda está um pouco nebuloso para 2011. A taxa de câmbio está ajudando a segurar os preços de bens de consumo e o reajuste menor real do salário mínimo pode ajudar a desaquecer um pouco a demanda. Como os investimentos efetuados em 2010 deverão se materializar este ano, o Ipea espera que haja uma oferta mais adequada à demanda.

 

Outro ponto de alívio são as medidas tomadas pela equipe econômica. ”Todas as políticas vão de alguma maneira ajudar a chegar na estabilidade econômica”, disse ela. Um sinal dado nessa direção foi o recente aumento da taxa básica de juros, a Selic, acrescentou.

 

A economista acredita que o país terá uma política fiscal um pouco mais austera, o que ajudará a política monetária a controlar o ambiente inflacionário. A expectativa é de um cenário de inflação mais tranqüilo em 2011.

 

A dúvida sobre o que vai ocorrer ao longo do ano está no lado dos alimentos, avaliou a economista. Como o Brasil deverá crescer um pouco menos este ano, ela espera que haja “um alívio de demanda por alimentos”. A perspectiva é de desaceleração dos alimentos, embora não se possa prever o ritmo dessa redução.

 

Em relação às commodities (produtos agrícolas e minerais comercializados no exterior), a economista disse que poderão continuar crescendo. E a grande dúvida será o comportamento dos preços do petróleo, que podem ter reflexos nos reajustes diretos de combustíveis e fretes e também na indústria química. “Pode ser um ponto de pressão”.

 

Outro ponto de pressão são os mercados consumidor e de trabalho, que se mostram aquecidos e podem continuar elevando o consumo das famílias.

 

Em comparação ao ano passado, Maria Andréia acha que pode haver uma desaceleração da inflação este ano. “Mas, não uma desaceleração forte, suficiente para se aproximar da meta estipulada (4,5%)”. Para ela, as políticas monetária e fiscal estão na direção correta. “O mais importante é que o mercado entenda que o governo está fazendo o seu papel para perseguir a estabilidade dos preços”.