Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
Iguape (SP) – As obras para o fechamento da barragem do Valo Grande já começaram, mas no município de Iguape (litoral sul paulista) a população ainda tem muitas duvidas sobre o que de fato será feito. A placa colocada na entrada da obra contém praticamente as únicas informações repassadas pelo governo do estado aos habitantes da cidade. O letreiro diz que serão empenhados R$ 8,61 milhões para a recuperação das estruturas construídas na década de 90 e que atualmente funcionam apenas como ponte.
Nem a prefeitura tem acesso ao cronograma de obras, segundo o diretor da Divisão de Meio Ambiente do município, André Gimenez. Ele ressalta que “toda a população” gostaria de saber quais serão as intervenções feitas.
O diretor lembra que não se trata simplesmente de interromper o fluxo de água que vem pelo canal. Existe o problema do assoreamento do rio, que também precisa ser resolvido para evitar que o fechamento produza inundações. “Logicamente a gente não quer penalizar os municípios acima, por isso a gente se preocupa com essa questão do desassoreamento do leito original para suportar a vazão”.
A represa deve interromper ou reduzir o fluxo de água proveniente do Rio Ribeira e que atualmente deságua no estuário de Iguape, prejudicando a flora e a fauna locais.
A população não conhece a extensão das obras, nem como serão operadas as comportas da barragem devido à falta do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), segundo o analista do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Eliel Pereira de Souza. “O processo de licenciamento não prevê a realização de audiências públicas, porque isso não está sendo licenciado por meio de um Estudo de Impacto Ambiental”.
Apesar da construção ter impactos diretos na economia e na vida na cidade, Souza afirma que o único evento público sobre a barragem foi a abertura das obras, em fevereiro de 2010, pelo então governador de São Paulo, José Serra.
Ele conta ainda que nem os pedidos de informação feitos pelo ICMBio são atendidos pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) do estado, responsável pelas obras. Souza ressalta que o órgão estadual tem interesse direto na barragem, uma vez que a construção deve alterar todo o ecossistema no estuário de Iguape.
Para o diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, a falta de informações é uma estratégia do governo para evitar cobranças da população. “O Poder Público não quer comunicação para não ser cobrado”, concluiu.
Edição: Graça Adjuto