Reunião entre Irã e P5+1 sobre programa nuclear acontece em clima de "desconfiança"

06/12/2010 - 17h05

Da BBC Brasil

Brasília -  Representantes do Irã e do P5+1  - grupo que reúne os cinco países que são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e mais a Alemanha - deverão continuar discutindo o programa nuclear iraniano até a próxima quinta-feira (8). As negociações começaram hoje (6), em Genebra, na Suíça.

O mais importante negociador do programa nuclear iraniano, Saeed Jalili, se encontrou com a chefe de Política Exterior da União Europeia, Catherine Ashton, e autoridades de Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha.  Analistas já antecipam que o melhor resultado que se pode esperar é apenas um acordo para a realização de mais reuniões.

As negociações destes dois dias serão "construtivas e abrangentes", mas os envolvidos admitem que há falta de confiança de ambos os lados. Durante a primeira parte da reunião de hoje, a delegação iraniana discutiu os ataques ocorridos há duas semanas em Teerã contra dois cientistas nucleares iranianos. O governo do Irã acusou agências secretas do Ocidente de realizar os ataques. Ashton, por sua vez, condenou os episódios.

A última reunião em Genebra ocorreu em outubro de 2009 e parecia ter chegado a um acordo em que o Irã iria exportar urânio com baixo grau de enriquecimento para ser processado em outro país. Mas, depois disso, o Irã introduziu novas condições e o acordo fracassou.  Os Estados Unidos e seus aliados acusam o Irã de tentar produzir armas nucleares, o que o país nega. O governo iraniano alega que seu programa nuclear tem fins pacíficos, para uso civil.
 
A reunião de hoje também ocorre um dia depois de o Irã ter anunciado que enviou seu primeiro lote de urânio produzido no país a uma usina, que poderá deixá-lo pronto para enriquecimento. O urânio enriquecido pode ser usado como combustível em reatores para a geração de energia ou utilizado para a fabricação de armamentos nucleares. Acreditava-se que o Irã tinha pouco estoque de urânio concentrado, originalmente importado da África do Sul nos anos 1970.

O envio do primeiro lote foi comunicado pelo chefe do programa nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi. Hoje, Salehi também comentou a reunião em Genebra na televisão estatal iraniana e afirmou que as negociações visam a beneficiar outros países, e não o Irã. "Queremos criar uma solução diplomática para sair do impasse político para aqueles que nos pressionaram", afirmou.

A ONU já aplicou várias rodadas sucessivas de sanções contra o Irã depois de o país não cumprir com as resoluções do Conselho de Segurança, ordenando a suspensão do enriquecimento de urânio. O Conselho de Segurança afirma que, até que as intenções pacíficas do Irã possam ser comprovadas, o país deveria interromper o enriquecimento e outras atividades nucleares.
O Irã diz que, como signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, tem o direito de enriquecer urânio para a produção de energia para uso civil.