Desenvolvimento sustentável só com equilíbrio cambial e juros baixos, diz economista

26/11/2010 - 14h31

Lourenço Canuto
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Brasil só alcançará o desenvolvimento sustentável depois do equilíbrio interno do câmbio, com juros mais baixos e estabilidade no balanço de pagamentos. A afirmação foi feita hoje (26) pela economista Maria da Conceição Tavares, ao participar da 1ª Conferência do Desenvolvimento (Code), promovida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Segundo Conceição, não se deve esperar muito de grupos de países como o G7, porque cada um vai sempre querer resolver seus problemas internos sem uma visão para benefício mundial. Por isso, disse ela, o Brasil tem de se preocupar consigo, mas levando em conta que "políticas macroeconômicas não podem atrapalhar o desenvolvimento interno".

Na opinião da economista, a alta taxa de juros no Brasil atrai capital externo especulativo, ao mesmo tempo em que o real está mais valorizado do que as moedas dos 70 principais 70 países. Por isso, Conceição Tavares afirma que é preciso conter a entrada de recursos estrangeiros no país.

Ela recomenda ainda o país a baixar lentamente a taxa de juros e a desvalorizar o real, por considerar que a proporção cambial do momento "afeta a indústria, provocando desindustrialização e retraindo o crescimento econômico".

Desde quarta-feira (24), a 1ª Code está promove debates entre representantes de diversos setores do governo e da sociedade civil sobre estratégias de desenvolvimento. Foram nove painéis temáticos e 88 oficinas. Houve lançamentos de livros, foram organizadas exposições e apresentações artísticas e culturais, abertas ao público. Um dos livros lançados foi Desenvolvimento e Igualdade, que homenageia Maria da Conceição Tavares pela passagem de seus 80 anos.

A economista mostra-se otimista em relação ao governo de Dilma Rousseff, afirmando que a presidenta eleita "é corajosa e tem discernimento" e que os brasileiros precisam pedir a Deus proteção coletiva, e não individual.

Ela defende um trabalho voltado para o equilíbrio na política fiscal, sem deixar de lado a prática de uma política de universalização da saúde e da educação. Ao empresariado ela sugere que aproveite os juros baixos no exterior e compre financiado e recomenda à área econômica atenção tanto com a inflação de custo quanto com a de demanda.

Sobre a economia global, Conceição Tavares destaca que o mundo está numa "situação econômica preocupante", enquanto o Brasil e a China "arrumam a casa". Ela vê com pessimismo a situação de alguns países europeus, que "têm muito déficit em suas contas e altas taxas de desemprego".

Conceição ressalta que o Banco Europeu luta para controlar a moeda do bloco (euro), mas sem a contribuição do Banco Central alemão, que está fora, por ter uma visão muito conservadora ao lidar com a conjuntura. Para a economista, a Europa terá dificuldade de executar uma política anticíclica no quadro atual, desencadeado com a quebra dos bancos no final de 2008.

Edição: Nádia Franco