Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Paraty (RJ) - O “mal-estar” provocado entre escritores pela indicação do nome do sociólogo Gilberto Freyre como homenageado da oitava edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) foi contornado. A avaliação foi feita pela historiadora Maria Lúcia Pallares-Burke ao analisar o evento que termina hoje (8) e reúne mais de 30 autores de 14 países.
“Eu acho que as pessoas estão reconhecendo que literatura tem um sentido estreito, mas também tem um sentido amplo, e é nesse sentido que Freyre e outros caberiam, como Euclides da Cunha. Um indíviduo que não é literato no stricto sensu [em latim significa literalmente em sentido estrito. Também se refere ao nível de pós-graduação que titula o estudante como mestre e doutor em campo específico do conhecimento], mas que traz para as suas ideias, históricas e sociológicas o poder da imaginação. Que tem um belíssimo estilo e um talento literário que engrandece e embeleza e, portanto, atrai mais leitores para sua obra”, explicou Maria Lúcia.
A autora de Repensando os Trópicos: Um Retrato Intelectual de Gilberto Freyre, em parceria com o marido Peter Burke, lembra que o próprio Freyre preferia ser descrito como escritor e “se irritava com aqueles que esqueciam o seu lado estilista e só viam nele o lado sociólogo, historiador ou antropólogo”.
Maria Lúcia Pallares-Burke, que elaborou junto com o diretor de programação da Flip, Flávio Moura, as atividades dedicadas à homenagem, disse que um dos objetivos da organização foi aproximar o público leigo das obras do sociólogo e escritor e que essa meta parece ter sido atingida.
“Pelo número de pessoas que vi comprando obras dele, esperamos que o interesse não pare só na compra e que leiam mais e se aproximem sem medo. A leitura de um autor que não é de ficção deve afastar muita gente que pensa “talvez não seja pra mim, não vou entender”, mas acho que nosso trabalho foi no sentido de mostrar que, apesar de ele não escrever romances, tem o dom do romancista”.
Para a historiadora paulista, que vive hoje na Inglaterra, “uma das formas de aproximar o público é mostrar inclusive a variedade, a multiplicidade dos interesses de Freyre”. Ela sugere aos novos curiosos sobre Freyre a leitura de obras menos complexas e menores, como Nordeste e Ingleses no Brasil. "São obras “deliciosas e que foram negligenciadas”.
Sobre o aspecto polêmico de Freyre, Maria Lúcia Pallares-Burke lamenta que muitos críticos se limitem a se posicionar contrários ou favoráveis e comprometam, com isso, o maior entendimento de sua obra. “Eu acho, às vezes, que já deveria ter chegado a hora de maior maturidade das pessoas para estudar ou ler Freyre com mais isenção, sem serem tão apaixonadas, a favor ou contra. Ninguém está propondo que ele seja a Bíblia, mas a obra dele, concordemos ou não com ela, ajuda as pessoas a pensar sobre o Brasil. Ele é um interlocutor que está presente, visível ou invisível, nas discussões sobre o Brasil atual”.
Edição: Graça Adjuto