Conversa do Brasil com Irã teve objetivo de abrir caminho para acordo, segundo Lula

03/08/2010 - 21h01

Luiz Antônio Alves
Correspondente da Agência Brasil na Argentina

San Juan - O Brasil não se propôs a intermediar um acordo entre o Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) com relação ao programa nuclear do governo de Mahmoud Ahmadinejad. O objetivo do país foi o de convencer o presidente iraniano a negociar não só com a agência, mas também com o chamado Grupo de Viena, composto pelos Estados Unidos, pela Rússia e França. A informação foi dada hoje (3) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante coletiva após o encerramento da 39ª Cúpula do Mercosul, na cidade argentina de San Juan. "Não tínhamos procuração para fazer acordos", disse o presidente. "Na época, o que se argumentava era que o Irã não aceitava negociar o seu programa nuclear".

Lula disse que seu argumento era que o Irã poderia conversar com o Brasil e a Turquia. "Quando visitei Moscou, um jornalista fez uma pergunta ao presidente [da Rússia, Dmitri] Medvedev: 'De zero a 100, qual nota ele daria para a possibilidade de o Irã negociar seu programa nuclear com o Brasil e a Turquia. O presidente Medvedev respondeu 30% e eu disse 99,9%.' O acordo surgiu depois de 18 horas de conversa".

O presidente lembrou que o Irã aceitou assinar uma declaração afirmando que queria se sentar à mesa de negociação. "O prazo para o envio da carta à Agência Internacional de Energia Atômica vencia num domingo e ela foi enviada dentro do prazo. O que eu estranhei, e ainda estranho, é que os que duvidavam de que o Irã iria negociar resolveram dizer que era preciso aumentar as sanções contra o país".

"Hoje já é público mas lembro que a carta que o Irã assinou com o Brasil e com a Turquia era o mesmo documento que o [Barack] Obama enviou para mim e para o primeiro-ministro da Turquia dizendo quais seriam as bases aceitáveis para a conversa com o Irã".

Segundo o presidente Lula, seu papel era apenas convencer o Irã a enviar para a Turquia 1,2 mil quilos de urânio bruto para receber, depois, o produto enriquecido a 20%. "O Irã concordou", disse Lula. "O que estranhei, e ainda estranho, é que aqueles que queriam exatamente isso já não querem mais".

 

Edição: João Carlos Rodrigues