Lisiane Wandscheer
Enviada Especial
Recife - O processo de fechamento do Hospital Psiquiátrico José Alberto Maia, localizado a 10 quilômetros da capital pernambucana, divide opiniões das famílias de pacientes. Pela entrada da instituição, diariamente, circulam parentes que se reúnem com a equipe médica responsável pela transição dos internos para as residências terapêuticas, para outros hospitais ou pelo retorno às famílias.
Fernanda Reis, 28 anos, é sobrinha de Eliane da Silva, que viveu na instituição durante quase 30 anos, e conta que faltava tudo para os pacientes: roupas, alimentos e medicamentos. “Minha tia andava sem roupas, descalça, a gente trazia roupa e eles desapareciam com elas, eles [os pacientes] comiam com as mãos. Só pelo fato de terem um problema mental eles eram tratados como bichos.”
Ela relata que os cuidados com os pacientes e a higiene pessoal também eram péssimos. “Minha tia já pegou sarna e os médicos diziam que era normal. Ela quebrou o braço e ninguém viu o que aconteceu. Toda vez que vínhamos, minha mãe tinha que dar banho nela. Eles maltratam muita gente aqui.”
Segundo Fernanda, algumas famílias são contrárias ao fechamento do hospital porque não querem levar os parentes com transtornos para casa; outras preferem deixá-los no hospital para ficar com o dinheiro da aposentadoria por invalidez.
Para Luiza Maria da Silva, irmã de Ana Maria da Silva, que está internada no hospital desde os 7 anos e hoje tem 48, o Alberto Maia é o melhor hospital de Pernambuco.
“Os outros hospitais davam medicamentos e a mandavam para casa, não queriam saber se ela se comportava bem ou não. Ela chegou aqui com 7 anos muito agressiva e depois mudou. Há mais de 20 anos, não agride ninguém. Ela é a cria da casa, é uma das mais antigas”, conta orgulhosa.
Luiza diz que está insegura com o fechamento da instituição. “Dizem que vão colocá-la numa casinha, mas quem agride as famílias tem condições de ficar em casa?”, pergunta a irmã de Ana Maria.
Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo