Comunidade protesta contra instalação de aterro sanitário em município do interior

06/06/2010 - 12h44

Vladimir Platonow

Repórter da Agência Brasil

 

 

Rio de Janeiro - O fechamento do aterro sanitário de Gramacho, na região metropolitana do Rio, deverá melhorar a qualidade do ar de quem mora no bairro, em Duque de Caxias, e sofre com o permanente mau cheiro e a poeira levantada pelas centenas de caminhões que transitam 24 horas por dia no local. Mas a transferência já está tirando o sono dos cerca de 10 mil moradores da Agrovila de Chaperó, uma comunidade bucólica no município de Seropédica, a cerca de 100 quilômetros da capital.


Cercada de verde, com antigas fazendas, nascentes d´água e próxima a uma serra coberta por mata nativa, Chaperó terá seu sossego modificado dentro de mais alguns meses, quando começará a funcionar ali o centro de tratamento de resíduos que substituirá Gramacho, recebendo lixo de toda a região metropolitana do Rio.

Os moradores reclamam que a instalação do aterro foi imposta e eles não foram consultados. “O povo é o último a saber das coisas. Eles deveriam ter se comunicado com a comunidade. A gente respira o verde e vai respirar poluição. Estão iludindo muitas pessoas, em matéria de emprego, mas promessa todo mundo faz. Chaperó vai ser conhecido como o bairro do lixão e será esquecido”, reclamou o instalador elétrico Marco Antônio Patrocínio, que há 24 anos foi morar na localidade, que não passava de poucas dezenas de casas, em meio a chácaras e sítios.

Para o presidente da associação de moradores de Chaperó, Everaldo Eufrásio, o quadro que se aproxima é perturbador. Ele já organizou um abaixo-assinado contra a instalação do aterro e promete um grande protesto para os próximos dias, reunindo a comunidade contra a obra. “A associação fez uma pesquisa de opinião e mais de 98% dos entrevistados foram contra o lixão. Estamos colhendo assinaturas dos moradores para embargar o lixão nessa região. Aqui tem um aquífero [Piranema] e tememos pela contaminação da comunidade com doenças contagiosas”, apontou Eufrásio.

“Esse lixão era para ser instalado em Paciência [bairro da zona oeste do Rio], mas devido a manobras políticas entre o governo atual e o prefeito do Rio de Janeiro, deslocaram o lixão para o nosso bairro”, criticou Eufrásio. “Com tristeza, nós vemos a desvalorização de nossas casas e um futuro ruim para nossos filhos. Uma degradação total do local. Mas vamos continuar lutando contra esse lixão, para futuramente mantermos essa qualidade de vida, com ar puro e tranquilidade”, completou o presidente da associação.

A beleza de Chaperó foi o que atraiu moradores como Guilherme Zanini. Há dois anos, depois de se aposentar, ele investiu todos suas economias em uma casa de dois andares, em frente a uma bela fazenda: uma paisagem de encher os olhos. E foi exatamente ali o local escolhido para instalar o centro de tratamento de resíduos.

“Agora ficou ruim. Quem vai poder ficar aqui, na boca do lixão? É difícil, mas a gente está lutando para eles encontrarem um outro lugar. Eu vim para cá justamente para fugir da poluição. No fim da vida, o que a gente quer? Viver mais um pouquinho. Fiz um investimento e agora vou ficar no prejuízo”, lamentou Zanini, que morava no bairro de Realengo, na zona oeste, e saiu de lá para se afastar da violência.
 

 

Edição: Lílian Beraldo