Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) serão retomadas no mês que vem. Os europeus, porém, terão que entender que não assinarão com o Mercosul acordos de livre comércio semelhantes aos que foram firmados com o Chile, o Peru e a Colômbia, cuja estrutura industrial é diferente da brasileira, “que nós temos que preservar”.
A observação foi feita hoje (27) pelo assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, após abrir o 3º Fórum Brasil-Europa, no Rio de Janeiro. Segundo ele, todos os países terão que ceder um pouco nesse acordo, preservando o interesse nacional.
Isso significa, explicou Garcia, um equilíbrio entre a abertura industrial, do lado do Mercosul, e concessões mais substantivas no terreno agrícola pelos europeus.
De acordo com Garcia, o Brasil e o Mercosul têm uma posição mais homogênea em relação ao acordo com o bloco europeu no que se refere às políticas agrícolas lá adotadas. Já na União Europeia, há países mais protecionistas e outros que gostariam de acelerar as negociações com o Mercado Comum do Cone Sul. Em momentos de crise, como a enfrentada hoje pela Europa, “a tentação do protecionismo é muito grande”, avaliou.
O mercado europeu é importante para o Brasil. O comércio nacional para o bloco alcança em torno de US$ 110 bilhões, disse Garcia. “Gostaríamos de aumentar a nossa fatia e, ao mesmo tempo, de receber mais bens de capital europeus e investimentos também”.
O assessor especial da Presidência da República lembrou que em momentos de crise há fuga dos investimentos que não se sentem produtivos no mercado europeu e vêm para o Brasil em busca de realização. Citou os casos da Fiat e da Volkswagem, que produzem no Brasil mais automóveis do que suas matrizes na Itália e Alemanha, respectivamente. “Temos interesse em que a Europa se recupere, até porque isso terá um efeito global sobre a economia internacional.”
Ele disse ainda que os problemas na Europa poderão afastar do Brasil investimentos estrangeiros programados para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, caso se configure que se trata de uma crise de liquidez. Assinalou, porém, que países emergentes como o Brasil poderão ser um refúgio para investimentos que não são rentáveis no Continente Europeu.
Edição: João Carlos Rodrigues