Crise europeia pode afetar oferta de crédito e comércio exterior do Brasil, analisam economistas

07/05/2010 - 18h47

Daniel Lima e Kelly Oliveira

Repórteres da Agência Brasil

Brasília – Economistas brasileiros avaliam que a crise europeia pode afetar o Brasil na oferta de crédito e no comércio exterior. Segundo o economista da LCA Consultores, Homero Azevedo Guizzo, “o principal risco é uma versão reduzida do que aconteceu em 2008”, início da crise financeira internacional.

Na avaliação de Guizzo, caso os bancos credores de países endividados da Europa sofram perdas, pode haver redução da oferta de crédito, ou seja, as instituições atuantes no Brasil podem ter dificuldades de captar dinheiro lá fora para emprestar aqui. Entretanto, ele ressalta que a dimensão da crise anterior foi maior, uma vez que os bancos, na ocasião, fizeram mais uso da estratégia de tomar empréstimos, em volumes superiores ao seu patrimônio, para aplicações de risco no mercado financeiro. Além disso, Guizzo destacou que o tamanho da dívida em questão atualmente é menor.
 

A Grécia, pivô da crise, tem uma dívida de 300 bilhões de euros. Segundo o BBC Brasil, para evitar que a crise contamine outras economias, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e países da Zona do Euro aprovaram um pacote de ajuda aos gregos no total de 110 bilhões de euros (cerca de US$ 146 bilhões).

Para a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, o risco de haver falta de crédito no Brasil como anteriormente não é tão forte. “Lá trás, a gente não tinha qualquer informação da exposição dos bancos. Agora, não é o caso. De qualquer forma, esse seria o canal [de contaminação] mais importante. Mas eu acho improvável”, afirmou.

Segundo os economistas, uma outra forma de contaminação da economia brasileira é o aumento da cotação do dólar. Isso acontece porque quando há aumento do risco no mercado, os investidores costumam aplicar recursos em títulos do governo americano, considerados seguros. “Os ativos brasileiros estão cada vez mais líquidos e, aí, nos momentos de efeito manada, é natural que haja ajustes nas carteiras, reduzindo posição em países onde é mais fácil sair. Esse efeito-contágio, via aversão a risco, é inevitável. Faz parte do mercado”, disse Zeina.

Nessa situação, a procura por dólar aumenta, já que os investidores precisam da moeda americana para comprar os títulos e, aí, a cotação sobe. Por consequência, fica mais caro importar e os produtos brasileiros tornam-se mais baratos. Entretanto, Guizzo afirma que essa situação não indica aumento das exportações brasileiras uma vez que, em cenário de crise, a demanda mundial por produtos diminui.

Já para Zeina, esse efeito no setor de comércio externo é marginal, uma vez que as exportações brasileiras já estão deprimidas e a crise na zona do euro não teria impacto importante. Por outro lado, o mercado interno continua com uma demanda forte. "Então, o impacto disso na economia, claro que ela é relevante no setor [exportador], mas não na economia [como um todo]. E sem contar que, hoje, a gente tem exportações mais diversificadas e o peso da China aumentou. Isso pode contrabalançar", disse.

Segundo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem (6), o Banco Central (BC) afirma que eventual agravamento da crise fiscal em países europeus é parte importante do contexto das decisões futuras sobre a taxa básica de juros, a Selic. Para Guizzo, caso o cenário externo fique pior, com bancos em dificuldades para captar dinheiro lá fora, é possível que o BC reduza o ritmo de aumento da Selic. Na reunião do Copom de abril, o aumento da Selic foi de 0,75 ponto percentual para 9,50% ao ano. “O Banco Central trabalha com um cenário externo incerto, perigoso”, avaliou.

 

 

Edição: Lana Cristina