Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, autor de vários livros sobre o culto do candombé, avaliou como positiva a iniciativa do Ministério da Cultura, de preservar os terreiros com o título de patrimônio imaterial.
Ele alertou, porém, que os cultos não são somente manifestações lúdicas do povo negro, como a capoeira ou o samba, mas sim uma prova da continuidade da fé nos orixás e de uma forma de vida e que, por isso, os terreiros deveriam ser vistos como locais de manifestação religiosa.
“Os terreiros são comunidades que unem o cotidiano ao sagrado, onde as manifestações das entidades atravessam as inquietações sociais, as relações intersubjetivas de negros e brancos”, disse o escritor.
Ele acredita que a partir desse contato entre o Poder Público e os trabalhadores do candomblé, que vai ocorrer durante o 1º Fórum dos Terreiros de Candomblé do Rio de Janeiro, hoje (5) e amanhã (6), podem surgir propostas para estreitar a relação e trazer melhorias para os terreiros.
Expectativa positiva também tem Mauro Nunes, relações públicas da Sociedade Nossa Senhora das Candeias, o terreiro de Nitinha de Oxum, o primeiro do Rio de Janeiro que deu entrada ao processo de tombamento no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Sei que o processo ainda está em andamento e, enquanto isso, continuamos dependendo da boa vontade dos freqüentadores em dar uma contribuição e dos filhos de santo, que também colaboram com uma mensalidade para manter a casa. Nossa expectativa é de receber subsídios, a exemplo do que ocorre com a Casa Branca, da Bahia, da qual somos descendentes e que desde que recebeu o título de patrimônio imaterial, vem sendo conservada pela prefeitura, com pintura, troca de lâmpadas e outros consertos”.
Para o babalorixá Sérgio Pina de Oxossi, a possibilidade de receber um título do governo federal e ter um registro de seu terreiro traz a expectativa de dias melhores. Ele ficou de fora do mapeamento feito pelo Iphan, mas tem esperança de que o centro que comanda há 26 anos em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, possa ser incluído no inventário e, assim, receber melhorias do governo. Segundo ele, as dificuldades são muitas, a começar pela parte financeira, pois a responsabilidade com os santos é muito grande e os rituais preveem gastos com comida, roupas e velas, além de luz, água e gás.
“Antes, os filhos de santo moravam nos terreiros, mas agora a maioria trabalha e não tem disponibilidade para ajudar no dia a dia. Então, estabelecemos uma mensalidade para dividir os custos e evitar que a casa feche as portas”.
Edição: Graça Adjuto