Leandra Felipe
Repórter do Radiojornalismo/EBC
Goiás (GO) - A cidade de Goiás (GO), patrimônio histórico da humanidade desde 2001, prepara-se para as celebrações da Semana Santa. A Procissão do Fogaréu - o ponto alto da programação da cidade - teve seus primeiros registros no município no século 19.
Segundo o historiador goiano Elder Camargo, a celebração deixou de ser realizada por quase 100 anos. Em 1965, moradores da cidade que faziam parte da Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat), resgataram a tradição. "Começamos a nos preocupar com o patrimônio cultural daqui, com os costumes que haviam se perdido. Daí pesquisamos com nossas avós, bisavôs e fomos montando o quebra-cabeças", explica.
A procissão representa a captura de Cristo antes da crucificação. À meia-noite de hoje (31), os antigos postes que iluminam a cidade serão apagados e no escuro, as figuras centrais da procissão, os farricocos - personagens que representam os perseguidores de Jesus - caminharão pelas ruas com tochas de fogo.
As origens da procissão no país são anteriores às da capital goiana. Elder Camargo relata que o pesquisador pernambucano Fernando Pio descobriu que procissões semelhantes eram realizadas na Espanha e em Portugal no século 17. Os primeiros registros no Brasil aparecem em 1618 na Bahia e em 1726 na Paraíba.
O historiador goiano afirma que, apesar de haver outras pelo Brasil, a de Goiás tem mais força por causa da figura do farricoco. "Nas outras, as tochas de fogo estão presentes, mas o colorido dos homens encapuzados, nós só temos aqui em Goiás," diz, orgulhoso. E completa: "Agora, estão até copiando os farricocos. Mas as ruas de pedra e a paisagem urbana colonial são mais um diferencial, que reforça a tradição".
Ontem (30), as passadeiras deixaram todas as roupas prontas para a procissão. O contador Rodrigo Passarinho fez os últimos ajustes na fantasia. Ele participa do Fogaréu como farricoco há dez anos e diz que a primeira vez foi por curiosidade. "Na segunda vez, me apaixonei pela procissão e agora vou mesmo por saber que participo de uma tradição centenária", frisou.
Nas celebrações do século 18, apenas um dos participantes atuava como o farricoco. Na festa atual, 40 homens compõem a encenação.
Edição: Graça Adjuto