Mujica e Lula têm afinidades políticas e ideológicas

29/03/2010 - 8h17

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Ex-guerrilheiro do Movimento de Libertação Nacional Tupamaro que lutou contra a ditadura, o presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, de 75 anos, assumiu o governo no último 1º. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Mujica representa a personalização de uma liderança revolucionária e da fé na democracia. Mujica tem afinidades políticas e ideológicas com Lula, além de admiração mútua.

A interlocutores, Lula costuma dizer que o uruguaio é o símbolo da renovação política e exemplo  para a América Latina.  Na sua biografia, Mujica tem 14 anos de prisão por ter participado de sequestros e assaltos em defesa da democracia. Apesar de pouco tempo no governo, é uma das figuras mais populares no Uruguai. Pelo menos uma vez por semana ele reúne seus assessores diretos para almoçar em um bar simples, sem segurança especial nem cuidados extras, na área antiga de Montevidéu, capital uruguaia.

Na política e economia externas, Mujica e Lula têm posições semelhantes. O uruguaio é favorável ao fortalecimento dos blocos como o Mercosul, a União das Nações Sul- Americanas (Unasul), e a recém criada  Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos – que exclui os Estados e o Canadá.

Como Lula, Mujica condenou a deposição do ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya. O hondurenho foi deposto por um golpe de Estado em 28 de junho de 2009. A ação foi organizada por um movimento integrado pelas Forças Armadas, a Suprema Corte e membros do Congresso Nacional. Em janeiro, assumiu o novo presidente do país, Porfirio “Pepe” Lobo.

Porém, há também divergências entre o Brasil e o Uruguai. Os uruguaios reclamam da falta de apoio do Brasil e do Mercosul em busca de uma solução para a chamada “crise das papeleiras”. É o impasse que envolve fábricas de celulose por causa da construção de duas usinas na fronteira entre o Uruguai e a Argentina. Os termos do acordo ainda não têm definição. O assunto está na Corte Internacional de Justiça.

Internamente, Mujica demonstra que vai manter firme as metas que definiu. Ele quer fazer uma espécie de revisão nos processos judiciais referentes às violações dos direitos humanos ocorridas durante a ditadura uruguaia – de 1973 a 1985. A iniciativa deve gerar polêmicas com setores conservadores e militares que resistem à medida. O novo presidente já avisou também que é favorável à libertação dos militares com mais de 70 anos, que estão presos.

Nas eleições uruguaias, Mujica venceu com 53% dos votos contra 42% do seu adversário, o ex-presidente Luis Lacalle. Com um discurso de conciliação, o presidente realiza reuniões desde a sua eleição em busca de acordos políticos para garantir a governabilidade.

Edição: Graça Adjuto