Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A decisão do Banco Central que autorizou o Tesouro Nacional a comprar dólares no mercado doméstico para saldar compromissos a vencer em um prazo de 750 dias e não mais em 360 dias, como era até agora, ainda traz dúvidas para o mercado financeiro. Aparentemente, a medida não trará mudanças significativas na formação da taxa de câmbio, na opinião de Zeina Latif, economista do banco holandês ING.
No entanto, há entre analistas a dúvida se a medida irá abrir espaço para uma atuação mais ativa do Tesouro Nacional em uma eventual necessidade de segurar o câmbio. Para os analistas, isso poderia ocorrer se o governo achasse essa alternativa conveniente, o que poderia levar o Tesouro a fazer o papel do Banco Central na política cambial.
Embora o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tenha descartado, ontem, o uso do Fundo Soberano nas operações, há o temor de que isso aconteça, já que existe previsão legal para a compra de moeda norte-americana pelo fundo para valorizar seus recursos.
Também há dúvida sobre o funcionamento das operações na prática. Uma delas, na opinião de Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, é se o Banco Central e o Tesouro Nacional irão operar juntos ou irão competir no mercado de câmbio.
“Até porque a gente ainda não sabe como vai funcionar, na prática, a questão Tesouro e BC. Se eles combinam ou não. Se eles vão competir ou não no mercado de câmbio”. Alessandra admitiu que o mais provável é que haja “combinação” entre o BC e o Tesouro.
“Se não houver consenso, teremos os dois atuando e teremos uma pressão maior no mercado de câmbio. Pode dificultar ainda mais a atuação do Banco Central, porque um câmbio depreciado bate na inflação e aí ele, Banco Central, tem que reagir com política monetária [elevando os juros, por exemplo].
A economista destacou que, se a medida for apenas para aumentar o prazo para o pagamento da dívida, não há com que se preocupar, já que a política do governo é justamente essa: alongar e melhorar o perfil dos títulos.
“Então, tem sentido a gente comprar mais para a frente e fazer caixa para ficar mais tranquilo, embora nossas reservas internacionais já estejam em um nível bastante elevado e a gente esteja bastante seguro”.
Para Alessandra, se as medidas forem analisadas como uma decisão para consolidar todas as normas, o anúncio foi positivo porque moderniza as regras sobre o câmbio, consideradas velhas e não mais adequadas à realidade do Brasil, que no passado enfrentou a escassez de dólares e agora vive uma realidade inversa.
Outra medida anunciada pelo Banco Central permite às empresas não financeiras deixar no exterior os recursos captados pela emissão de ações, os chamados Depositary Receipts foi considerada totalmente alinhada com o que já ocorre no mundo capitalista.
“Isso acontece tranquilamente em outros países. Você pode fazer isso em outros mercados, sem trazer os recursos para a sua economia. É bem alinhado”.
Para ela, essa “liberalização cambial” é um avanço, pois permite que as empresas deixem os recursos aplicados onde poderá ter maior retorno, ou os usem nos projetos de investimento no Brasil.
A economista não vão vê impacto expressivo na taxa de câmbio com essa medida, até porque a maioria das empresas que estão lançando DR ou tomando recursos no exterior já está trazendo os recursos para o Brasil.
“A gente tem uma perspectiva de crescimento melhor do que no resto do mundo e as empresas estão retomando os investimentos. Então, depois de passada a ressaca, o fluxo vai vir para cá mesmo”.