Rede de museus conta a história da medicina no país

12/03/2010 - 17h02

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Reunidos na Federação Nacional dos Médicos, no Rio, durante ontem e hoje (12), mais de 30 representantes de museus que guardam parte da memória da medicina brasileira lançaram as bases da rede que vai interligar os acervos do país e desenvolver ações para tornar mais conhecido este tipo de espaço, aumentando o volume de doações.

Paulo de Argolo Mendes, presidente da federação e do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul, prevê que a partir do 1º Encontro Nacional de Museus da Medicina ocorra o estreitamento das relações institucionais entre as entidades.

“Foi com surpresa que vimos no encontro museus tradicionais em seus estados e suas cidades, que nem sabiam da existência uns dos outros. A partir de agora, vamos nos aproximar e trocar não só experiências, mas também peças em duplicata”, explica o responsável pelo encontro nacional.

O acervo de literatura e instrumentos médicos e de peças como o óculos usados por personalidades como Ruy Barbosa, inclui exemplares inusitados, entre elas, a banqueta com sela adaptada, usada a partir de 1947 por Oswaldo Hampe durante 30 anos, nas cirurgias que realizava na cidade de Antônio Prado, no Rio Grande do Sul.

“Acredita-se que ele tenha desenvolvido a banqueta devido às dores que sofria na coluna e tornavam as cirurgias verdadeiros suplícios para o médico. Assim, montado na sela, como num cavalo, o doutor Hampe não sentia dores e operava sem sofrimento”, conta Argolo.

No Museu de História da Medicina de Pernambuco encontra-se outra peça curiosa, desenvolvida por um médico local: a prensa de desentortar pés. Muito parecida à inventada por Gutemberg na Alemanha, na origem da impressão de livros e periódicos, ela apertava o pé do paciente até quebrar o osso defeituoso, para, então, colocá-lo no lugar e na posição corretos.

Exemplo igualmente interessante é a mulher de pano com ventre e vagina de couro, usada por médicos do interior do país em cursos práticos para parteiras. Mediante o uso de bonecos no lugar de bebês, elas aprendiam a conduzir um parto de modo a preservar a saúde da mãe e do filho, mesmo em situações complicadas, como no caso de parto com o cordão umbilical envolto no pescoço.

A Rede Nacional de Museus de História da Medicina deverá difundir seu acervo, atraindo público e incentivando doações de livros e equipamentos médicos que tenham ficado com parentes, sobretudo no interior, onde eram comuns as visitas domiciliares e a aquisição desses equipamentos para o tratamento dos pacientes em casa.

Argolo diz que parentes preocupados com a alienação dos bens cujo valor é quase sempre apenas afetivo podem optar pelo regime de comodato, como é comum no museu gaúcho.

“Muitas vezes o filho, o neto ou mesmo o bisneto não quer doar porque tem medo de que o objeto seja abandonado mais tarde. O comodato permite que ele o recupere quando bem entender, e é uma forma de restaurarmos e exibirmos no museu algo que tem valor na história da medicina brasileira”, finaliza.