Projeto Piraí Digital atraiu empresas e impulsionou economia da cidade

02/03/2010 - 9h58

Bruno Bocchini
Enviado especial

Piraí (RJ) – Diferentemente das dificuldades enfrentadas pelo município no final dos anos 90 com uma crise econômica e social, a cidade de Piraí (RJ) tem atualmente a maior parte das riquezas geradas pelas indústrias. Elas são responsáveis por 64% Produto Interno Bruto (PIB) do município ou R$ 415,9 milhões. Ao priorizar as áreas de tecnologia da informação e de comunicação, a cidade do sul fluminense conseguiu reverter o quadro a atrair diversas empresas para a região.

Nosso município passou por um momento grande de estagnação econômica, mesmo estando às margens da [Rodovia] Dutra, faltavam políticas para atração de empresa”, explica o coordenador-geral do Piraí Digital, Gustavo Tutuca. “Tínhamos muita dificuldade de comunicação na cidade. Para você ter uma ideia, a prefeitura tinha duas linhas de telefone. Se a prefeitura tinha duas linhas, imagina o resto da população”, ressalta o então prefeito da cidade, em 1997, Luiz Fernando Pezão, atual vice-governador do estado do Rio de Janeiro.

O setor de serviços, onde está concentrada a maioria dos empregos, vem em seguida na contribuição para o PIB, com R$ 230,1 milhões (35%). Na agropecuária, se produz R$ 5,8 milhões (1% do PIB). Os dados, de 2007, são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O PIB per capta da cidade era, em 2007, de R$ 30.888, o décimo maior do estado do Rio de Janeiro. Dez anos antes, no entanto, em 1997, a cidade estava em uma situação econômica bastante diferente. A pequena população da cidade, cerca de 22 mil habitantes, era um empecilho para a ampliação da comunicação no município. O baixo número de consumidores afastava as empresas de telecomunicações de instalarem serviços como internet banda larga na localidade.

As poucas empresas instaladas no município, no final dos anos 90, passaram a demitir. Com a privatização da empresa energética Light, mais de mil postos foram cortados na cidade. A Companhia de Papel, instalada no município, também reduziu seu quadro em quase mil empregados. Em uma população de cerca de 20 mil habitantes, o impacto foi grande.

Para voltar a atrair empresas, a gente esbarrou nessa questão da comunicação. E, com o projeto digital, demos um grande salto. Hoje, já não é mais um empecilho”, diz Tutuca. A ideia do prefeito era criar sua própria rede de internet. Cobrar das empresas um preço pelo acesso, menor que os cobrados pelas teles, e, com os recursos obtidos, bancar o acesso à rede a toda a população da cidade.

Só que eu não consegui legalizar essa rede. Fomos desenvolvendo aos trancos e barrancos e no final, a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] não deu licença para comercializarmos essa rede”, explicou. “Chegaram a propor que eu leiloasse o que já tínhamos construído da rede”, completou.

A autorização da agência veio logo em seguida, mas com a exigência de que a prefeitura fornecesse a banda larga sem cobrar nada pelo serviço. A solução então foi a cidade arcar com todos os custos da instalação e da manutenção do acesso a internet. O preço total para a criação de toda a infraestrutura da rede foi de R$ 3 milhões, com uma manutenção mensal de R$ 75 mil.

Sem condições financeiras de bancar o acesso gratuito a toda a cidade, a prefeitura criou diversos telecentros em boa parte do município, onde o uso de computadores e internet são gratuitos. Em todas as escolas, foram instalados pontos de acessos para os alunos. Ao redor dos telecentros é possível se conectar via wifi (internet sem fio) gratuitamente.

Hoje o município é praticamente todo coberto pela rede wifi construída pela prefeitura. Várias empresas instalaram-se em Piraí: a cervejaria Cintra, a indústria de componentes de computadores IMBP, e a fábrica de fraldas e absorventes Aloés Aloés.

Atualmente, Piraí registra o oitavo melhor desempenho entre os 92 municípios do Rio nas áreas de saúde, educação, e emprego e renda, de acordo com pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), divulgada em 2009.