Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi especialmente mais sensível à realização das conferências nacionais, diz o professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Valeriano Costa. Ele não teme, porém, a interrupção do processo em qualquer cenário projetado a partir das pré-candidaturas de Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PSB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (P-SOL).
“Não foi o governo Lula que inventou as conferências nacionais. A mobilização faz parte da dinâmica de alguns setores”, ressalta Costa, lembrando que a primeira conferência nacional (de Saúde) se deu na década de 1940, durante o governo de Getúlio Vargas, e que as conferências continuaram ocorrendo até mesmo durante a ditadura militar (1964-1985).
Na opinião do professor Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as conferências continuarão ocorrendo, mas “dificilmente ocorrerá a mesma quantidade”. Algumas estratégias de consulta direta sobrevivem com o passar dos governos, lembra o professor, citando os processos de orçamento participativo já realizados em diversos municípios.
Para Gerson Luiz de Almeida Silva, secretário nacional de Articulação Social, ligado à Secretaria-Geral da Presidência da República, o processo das conferências nacionais continuará, independentemente do resultado eleitoral em outubro. “A construção social não anda só para a frente. Essa ideia de participação, no entanto, está muito forte na sociedade brasileira. Durante o processo de redemocratização não houve retrocesso”, lembra.
Segundo ele, “vai ser muito difícil voltar a ideia de que quem governa é apenas o Poder Executivo ou o Legislativo sem escutar a sociedade”. Gerson Silva avalia que a realização das conferências envolve “uma energia social, que ninguém cobra um R$ 1 para mobilizar sua inteligência. Por que deixar de contar com isso?”, pergunta.