Terremoto agrava a miséria no Haiti

17/01/2010 - 15h21

Rivadavia Severo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Haitijá estava numa situação social bastante complicada antes do terremoto da última terça-feira (12). Opaís mais pobre das Américas vivia uma situação de penúria, emque ausência do Estado, aliada a uma economia quase de subsistência,marcava o cotidiano daqueles que tentavam se recuperar de mais umaguerra civil. Antes do tremor de terra que praticamente devastou acapital Porto Príncipe e outras regiões do Haiti, primeira naçãodo continente a conseguir a independência, a população já sofriacom a falta de serviços básicos e com o subemprego.

Acapital haitiana possui inúmeras favelas. Luz e água são serviços escassos. O comércio é quase todo informal e a segurança, divididaentre a polícia local e os militares da força da paz das NaçõesUnidas (ONU). É uma área de instabilidade permanente, como areportagem constatou ao visitar o país antes que o terremoto fizesseo mundo volta seus olhos para essa nação formada majoritariamentepor negros.

Aagricultura do Haiti é baseada na produção de cana-de-açúcar,manga, milho e arroz. Mas a produtividade caiu muito. Depois daguerra civil, as plantações são praticamente de subsistência.

Osrios não são perenes e só 0,5% da cobertura vegetal nativaresistiu às queimadas para a produção de carvão vegetal,principal fonte de energia para cozinhar alimentos no país. Osprincipais recursos naturais são o mármore e o calcário, cujasexplorações estão estagnadas.

Segundo oExército brasileiro, que comanda a Força de Paz da ONU desde 2004,a luz chegava só a 20% das casas e a água encanada, a 30%. Aexpectativa de vida é de 53 anos, e o analfabetismo atinge 47% dapopulação. Apesar do quadro desolador, os veteranos da missãobrasileira diziam que a situação “melhorou um pouquinho”.

Nas áreasmais pobres da capital haitiana, era normal ver crianças em trajesescolares convivendo com outras seminuas. Em lugares como CitéSoleil, o último reduto das gangues que resistiu ao domínio dosmilitares brasileiros, o Ponto Forte, ocupado pelo Exércitobrasileiro no começo de 2007, ainda estava crivado de balas. Nobairro paupérrimo, a pobreza extrema era uma realidade cotidiana. Osmercados públicos funcionavam em meio a valas de esgoto, onde secomercializa de tudo, desde alimentos até o carvão.

Arealidade das famílias mais abastados economicamente era diferente.Elas moravam na parte alta da cidade e contavam com gerador própriode energia, o que permitia que assistissem televisão, ouvissemmúsica e tivessem geladeiras. Na parte baixa, próxima ao porto, aluz era artigo de luxo.

Asociedade haitiana é majoritariamente católica, cerca de doisterços, mas pratica o vudú, que mistura o catolicismo com religiõesafricanas. As línguas oficiais são o francês e o creóle, umdialeto que mescla o francês com línguas africanas e é falado pelamaioria da população. A moeda local é o Gourde, mas o querealmente vale é o dólar americano.

No paísde 27 milhões de quilômetros quadrados, pouco maior do que estadode Sergipe, vivem cerca de 9 milhões de pessoas. Desse total, asorganizações internacionais calculam que pelo menos 50 mil tenhammorrido durante o terremoto. É essa a nação, agora ainda maispobre, que o Brasil, a França, os Estados Unidos e o Canadá, com aajuda de outras economias, terão de ajudar a reconstruir nospróximos anos.