ONU revela que os povos indígenas são parte da população mais pobre do mundo

14/01/2010 - 17h05

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os povos indígenas vivem em situação de pobreza no planeta. A afirmação consta de umrelatório divulgado hoje (14) pela Organização das Nações Unidas (ONU) que mostra que cerca de 15% dos 370 milhões de índios representam um terço dos mais pobres do mundo e também um terço dos 900 milhões de pessoas que vivem em extremapobreza, com menos de U$ 4,00 por dia, e habitam áreas rurais.Odocumento destaca que devido a uma série de fatores como oanalfabetismo, o desemprego e a discriminação “a comunidade indígena estáassociada a ser pobre”. No mercado de trabalho,isso se reflete nos salários e significa que os índios, mesmocapacitados, recebem a metade que os não-índios. Na América Latina, aBolívia apresenta a maior diferença de salário para cada ano adicionalde escolaridade.A pobreza, no entanto, também é a realidade dosíndios de países considerados desenvolvidos, como o Canadá, os EstadosUnidos, a Austrália e a Nova Zelândia. Lá, a população indígena tem os indicadores sociais mais baixos e é vítima do avanço daobesidade e do diabetes tipo 2, além da baixa expectativa de vida. NaAustrália, a expectativa de vida de um aborígene é em média 20 anosmenor do que a dos demais indivíduos. A falta de apoio paraa utilização de conhecimentos tradicionais e para a instalação desistemas que atendam de maneira diferenciada essa população, além deproblemas de ordem cultural como a discriminação e a falta deperspectivas de vida, refletem-se em problemas de saúde como alcoolismoque pode levar ao diabetes - que já atinge mais da metade dos índiosdo mundo - e nas taxas de suicídio.“Em algumas comunidades, adiabetes alcançou níveis de epidemia e é um risco à existência dosíndios”, afirma o relatório da ONU, que também destaca o avanço daAids, trazida pela prostituição, em muitos casos, e da tuberculose.“Por causa da pobreza, a tuberculose afeta desproporcionalmente osindígenas”, invisíveis devido a diferenças linguísticas, distânciasgeográficas e precárias condições de habitação.O relatório daONU sobre a situação dos povos indígenas no mundo também lembra que nasúltimas duas décadas, centenas de jovens Guarani Kaiowá, no Mato Grossodo Sul, cometeream suicídio. Dados do Ministério da Saúde, coletadosentre 2000 e 2005 mostram que em duas comunidades a taxa de suicídioera 19 vezes maior que a taxa nacional. “A situação dos Kaiowáresume os principais problemas indígenas do Brasil. Desnutrição,suicídio, alcoolismo, desemprego, falta de terras e violência”, disse Marcos Terena, articulador do Comitê Intertribal - Memória eCiência Indígena (ITC) ao comentar os resultados do levantamento. “OMato Grosso do Sul é considerado o estado do país mais violento para osíndios, onde os poderes pecuaristas e políticos avançaram demais”,criticou.De acordo com a pesquisa, o baixo acesso a mecanismosque garantam condições de sobrevivência a essas comunidades como terra,saúde, educação e participação nas decisões políticas e econômicas emseus países têm explicações históricas. O documento conclui que acolonização e a expropriação fundiária são responsáveis por essesindicadores.