Orgânicos - Setor espera grande desenvolvimento a partir do ano que vem

28/12/2009 - 7h12

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A edição de agosto daRevista Orgânica, que circula no Rio de Janeiro, mostrou adimensão alcançada pela alimentaçãoorgânica na principal potência industrial do planeta, osEstados Unidos.“A primeira-dama Michelle Obama vai cultivaruma horta orgânica nos jardins da Casa Branca, sede oficial dopresidente norte-americano. Da horta, sairão vegetais, ervas elegumes, como espinafre, acelga, couve, tomates pequenos e pimentas,diretamente para a cozinha, para alimentar a família Obama etambém para refeições em eventos oficiais”,diz a publicação.“Na realidade, a preocupaçãodeles com alimentação saudável ficou bem clarana campanha eleitoral do presidente norte-americano. Este foi um temarecorrente, bem como a questão ambiental e o desenvolvimentosustentável. Infelizmente, por aqui a história émuito diferente”, comenta o coordenador da feira de produtosorgânicos da Glória, no Rio, Renato Martelleto.Afeira coordenada por Martelleto é a mais antiga da capitalfluminense e, ao completar 15 anos de existência em outubro,passou a ter uma diversidade maior de alimentos ofertados. Asbarracas também passaram por uma reforma no seu desenho.Atualmente, 13 produtores são responsáveis peloabastecimento de produtos, vindos da área rural de cidades daSerra dos Órgãos fluminense.“Estive agora noBrejal, em Petrópolis, e fiquei triste com a situaçãodos produtores, sem condições financeiras para acolheita e o transporte até as feirinhas onde vendem. Se aFeira da Glória acabasse hoje, pelo menos 20 famíliasdo Brejal não teriam como sobreviver”, relata. Martelleto sequeixa do pouco acesso dos pequenos produtores às medidas deestímulo criadas pelos governos, muitas, vezes, por razõesburocráticas.A questão da certificaçãoobrigatória dos produtos orgânicos a partir de 2011, com a vigência da Lei dos Orgânicos, traráuma nova realidade ao mercado, na opinião não sóde Martelleto como de outros interessados no assunto.Engenheira agrônoma da Associação de AgricultoresBiológicos do Rio de Janeiro (Abio), Lúcia HelenaAlmeida comemora uma mudança que considera essencial no novomarco regulatório.“A Abio poderá certificar eorientar os produtores, o que hoje não pode fazer. Uma coisa écertificar o produto como orgânico, vendo que écultivado morro abaixo e não dizer nada. Outra coisa éensinar o produtor a plantar em outro lugar, evitando a erosão.Isso é sustentabilidade, é princípio dodesenvolvimento sustentável”, explica.A aplicaçãoda lei dará à produção orgânicabrasileira uma personalidade institucional que não tem,praticamente reabrindo o mercado que já existe, mas de maneiraprecária. Como costuma enfatizar o coordenador de Agroecologiado ministério da Agricultura, Rogério Pereira Dias, “oconsumidor que ter confiança no produto”, e o selo decertificação contribuirá para reforçaresse sentimento, na opinião dos participantes doprocesso.Outra consequência da certificaçãoobrigatória será o acesso mais fácil ao mercadoexterno, onde ela é pré-requisito para qualquerproduto. Já estão em andamento, por exemplo,negociações com importadores alemães deorgânicos para adequar a certificação nacionalaos moldes europeus.Coordenador do Grupo Executivo deAgroindústria da Federação das Indústriasdo Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o economista AntônioSalazar vê o mercado consumidor cada dia mais consciente comouma das origens da legislação mais rigorosa.“Nãosó os produtos orgânicos estão emdesenvolvimento. Os produtos convencionais também estãoe a prova é que a agricultura procura utilizar cada vez menosdefensivos, embora eles sejam necessários numa produçãoem larga escala. E a pesquisa científica, que leva aostransgênicos, busca exatamente produtos imunes às pragase doenças evitadas pelos defensivos. Na minha opinião,é falsa a dicotomia entre transgênicos eorgânicos”.Para ele, a produção e acomercialização de orgânicos “são oresgate de uma prática antiga da humanidade”. Mas o economista ressalta que o setor tem espaço limitado de expansão.“Não acredito que a produção orgânicaalcance a escala da necessidade de alimentos no mundo de hoje. Éclaro que são produtos mais saudáveis e a iniciativa dafamília Obama é emblemática. Mas nem sei se háespaço no terreno da Casa Branca para uma produçãocapaz de abastecer a mesa dos eventos oficiais”, comenta.A Firjan desenvolve projetos de fruticultura nonorte e noroeste do estado, tradicionais produtores, respectivamente,de cana-de-açúcar e de gado. A proposta da federaçãoé criar um polo produtor de frutas para o mercado interno epara exportação. Salazar comemora a primeira colheitade pêssegos, no norte fluminense, num total estimado de 400toneladas, neste ano.