Competição e individualismo marcam novo cenário mundial do trabalho, diz professor

27/10/2009 - 14h36

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O novo cenário mundialdo trabalho apresenta facetas como a da competição globalizada e ada ideologia do individualismo. A afirmação foi feita hoje (27)pelo professor da Universidade de Brasília (UnB) Mário CésarFerreira, ao participar do seminário Trabalho em Debate: Crise eOportunidades. Segundo ele, pela primeira vez, há uma ligaçãodireta entre trabalho e índices de suicídio, sobretudo na França,em função das mudanças focadas na ideia de excelência.De acordo com Ferreira, o que seobserva no cenário atual é um processo de transformaçõesaceleradas, como a interdependência dos mercados, a inovaçãotecnológica, a redução do ciclo de vida dos produtos, as redesglobais de comunicação e o crescente conhecimento agregado dosfuncionários. Em resumo: organizações mais enxutas ou as chamadasempresas light, com um forte incremento da terceirização deserviços e do trabalho autônomo.

“A configuração do mundo dotrabalho é cada vez mais volátil”, disse o professor. Eledestacou ainda a crescente expansão do terceiro setor, do trabalhoem domicílio e do trabalho feminino, bem como a exclusão de perfiscomo o de trabalhadores jovens e dos fortemente especializados. “Asorganizações preferem perfis polivalentes e multifuncionais.”

Desta forma, a escolarizaçãoclássica do trabalhador amplia-se para a qualificação contínua,enquanto a ultraespecialização evolui para a multiespecialização.A ideologia da economia espera que o novo trabalhador mantenha-seatualizado, maneje equipamentos altamente tecnológicos, relacione-sesocialmente e lide com problemas menos estruturados, além detrabalhar em equipe, explicou Ferreira.

Ele ressaltou que as “metamorfoses”no cenário do trabalho não são “indolores” para os quetrabalham e provocam erros frequentes, retrabalho, danificação demáquinas e queda de produtividade. Outra grande consequência, deacordo com o professor, diz respeito à saúde dos trabalhadores, queleva à alta rotatividade nos postos de trabalho e aos casos desuicídio. “Trata-se de um cenário em que todos perdem, asociedade, os governantes e, em particular, os trabalhadores”,avaliou.

Para a coordenadora da Diretoria deCooperação e Desenvolvimento do Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea), Christiane Girard, a problemática das relações detrabalho envolve também uma questão: qual o tipo de desenvolvimentoque nós, como cidadãos, queremos ter?.

Segundo Christiane, é preciso“articular” o econômico e o social, como acontece na economiasolidária. “Ela é uma das alternativas que aparecem e precisa serdiscutida. A resposta do trabalhador se manifesta por meio doestresse, de doenças diversas e do suicídio. A gente não sepergunta o suficiente sobre o peso da gestão do trabalho”, disse a representante do Ipea.