Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Entre os paísesda América Latina, o Chile pode ser considerado um modelo de boa educação.Destaque em avaliações internacionais, foi o paísmelhor colocado no ranking do Programa Internacional de Avaliaçãode Alunos (Pisa) nos últimos três anos. Em visita aBrasília para participar de um encontro de ministros, osecretário executivo do Ministério da Educação chileno,Cristian Martinez, enumerou alguns fatores que podem justificar osucesso do país. Entre eles está a educaçãoem tempo integral, oferecida em cerca de 85% das escolas do país.De acordo com Martinez, o Chile tem cerca de 3,8 milhões dealunos na rede pública – números modestos perto dos mais de53 milhões do Brasil. A taxa de evasão na educaçãoprimária, equivalente ao nosso ensino fundamental, é depouco mais de 1% e o analfabetismo atinge 3,8% da populaçãomaior de 15 anos. No Brasil, o índice é de 10%. Ascrianças chilenas entram na escola aos 6 anos e cumpremobrigatoriamente 12 anos de estudos, até o ensino secundário.No Brasil, o ensino médio ainda não éobrigatório e a escolaridade compreende apenas a faixa etáriados 7 aos 14 anos. Em entrevista à Agência Brasil,Martinez fala da experiência chilena e diz que o paístambém tem o que aprender com o Brasil.AgênciaBrasil: Quais são osprincipais diferenciais que garantem os bons resultados da educaçãono Chile? Cristian Martinez:A principal diferença é que faz muitos anos, mais de 40anos, que se fez um acordo político entre todos os setores -de oposição e de governo - para que a educaçãofosse um eixo fundamentalna política de desenvolvimento do país. Por isso que osesforços em educação têm sido permanentes,não importa o governo que muda. Os programas são mantidos e há muitos investimentos em educação. Nos últimos 10 anos, o orçamento da educaçãomais do que triplicou. Além disso, houve a decisão deestender a jornada escolar e as crianças tem mais horas naescola. Isso significou investir em novos colégios, ampliar osque já existem , investir em mais horas-aulas para osprofessores e em outras metodologias educativas. ABr: Quaissão os desafios da educação no Chile agora?Martinez: Agorao desafio é aprofundar na qualidade. Já temos acobertura, temos uma infraestrutura muito boa e os programas de apoioestão funcionando bastante bem. O desafio agora éformar melhor os nossos professores e garantir uma educaçãocom mais qualidade.ABr: Oque precisa vir primeiro: garantir que todos estejam na escola ou umaeducação de qualidade?Martinez: Acreditoque o acesso à escola já marca uma diferença, avançarem cobertura é muito importante. Temos que pensar nesse avançoda cobertura aliada à qualidade, mas acredito que o principalé tirar as crianças da rua e levá-las àescola. Abrindo as portas de umas escola a criança pode deixar a rua, estar em um colégio, aprender, estar maisprotegida e podemos focalizar em políticas de alimentação,vestuário e outras. A primeira fase de qualquer políticadeve ser a de abrir portas e ganhar a luta contra as ruas. E a faseseguinte deveria ser aprofundar a qualidade. O Chile tem uma boacobertura no ensino básico, tanto o primário quanto osecundário. Hoje estamos abrindo muitas portas para as criançasem fase pré-escolar. Se não há recursossuficientes, há que priorizar a abertura dessas portas, paralogo aprofundar em qualidade.ABr: Oque o Brasil e outros países da América Latina poderiamaprender com a experiência chilena?Martinez: Umadas coisas é o currículo que implementamosnos últimos anos. Ele é bastante flexível e podeser adaptado de acordo com as necessidade das regiões e doscolégios. Há uma certa autonomia para que os colégiospossam adaptar os planos e os programas. Mas o principal, euacredito, é o efeito positivo da garantia da jornadaestendida. A decisão de passar de duas jornadas – manhãe tarde – para uma jornada completa teve um grande impacto. Cercade 85% dos colégios do Chile estão nessa situação.São muito mais horas de classe, maior permanência dosalunos e melhores resultados. Agora temos que aprofundar mais emqualidade e na formação de professores.ABr: Qualé o objetivo do encontro com os outros ministros aqui noBrasil?Martinez: Nossaintenção é sempre conhecer o que estáacontecendo na América Latina, temos uma disposiçãopara compartilhar e conhecer boas práticas de outros países,creio que o Brasil tem muito a mostrar sobre o que tem feito emeducação.ABr: Quaisprojetos do Brasil interessam ao Chile?Martinez: OBolsa Família é muito interessante, é um projetomuito potente. Os programas de alfabetização tambémsão importantes. Apesar de praticamente toda a populaçãodo Chile estar alfabetizada, há zonas rurais em que édifícil chegar. As metodologias de ensino e as tecnologias deinformação que estão sendo utilizadas aqui sãomuito interessantes. Vamos seguir compartilhando essas experiências.