Políticas públicas valorizam imóveis em favelas do Rio

04/09/2009 - 13h47

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O mercado imobiliário vem registrando valorização vertiginosa em algumasfavelas da zona sul do Rio nos últimos meses. Os efeitos das políciaspacificadoras e das obras do Programa de Aceleração do Crescimento(PAC) têm sido positivos nessas comunidades, onde, até então, a vista privilegiadadas belezas naturais da cidade não era suficiente para sobrepujar aviolência e a pobreza. No Morro Dona Marta, em Botafogo, primeira comunidade onde foi instalada uma unidade de polícia pacificadora, em novembro passado,o preço dos imóveis quadruplicou. De acordo com RonaldoPereira, que já viveu nessa comunidade, sua moradia, que custava cerca de R$ 8 mil em 2007, quando omorro era dominado por traficantes, foi vendida recentemente poraproximadamente R$ 30 mil. No Morro do Chapéu Mangueira, no Leme, com a chegada da polícia pacificadora em junho, o tráfico perdeu o controle da região. Não só os imóveis no morro estãomais valorizados, como também os apartamentos no entorno. A aposentadaCeleste Ribeiro, dona de um apartamento de dois quartos comvista para a comunidade, gostou das mudanças, porque estava difícil conseguir um inquilino para o imóvel. “Estava há mesespara alugar, porque ninguém queria correr o risco de tomar um tirodentro da própria casa. Agora que está tranquilo, ficou mais fácilalugar por um preço viável”, explicou a proprietária. NoCantagalo, em Copacabana, as obras do PAC tiveram impacto imediato nopreço dos imóveis. De acordo com o presidente da Associação dosMoradores do Cantagalo, Luiz Bezerra Nascimento, os preços dos imóveisdispararam logo depois que os operários iniciaram as obras. “Uma casa com vista para o mar, dedois quartos, foi vendida há pouco mais de um ano por cerca de R$ 30mil. Hoje, com as melhorias na comunidade, a mesma casa valemais de R$ 50 mil.” De acordo com Bezerra, houve valorização também dos aluguéis. “Há mais ou menos um ano, oaluguel de uma casa de um quarto ficava por uns R$ 250, mas agora estãocobrando R$ 380 pelo mesmo imóvel. Aumentou um pouco, mas não tantoquanto o preço das vendas”, completou. Entre as encostas da Gávea e de São Conrado, bairros nobres da zona sul do Rio, aRocinha, com seus mais de 100 mil moradores já chegou a ter otítulo de maior favela da América Latina. Hoje, com uma população quecresceu 80% em nove anos, a Rocinha tem um dos projetos deurbanização mais ambiciosos do PAC. Embora o tráfico de drogas aindadomine a região e a violência seja motivo de apreensão para osmoradores, as obras têm modificado positivamente a geografia e aeconomia do lugar. Segundo Ana Lúcia Cardoso,integrante do projeto Mulheres da Paz na Rocinha, os moradores jáespeculam sobre o preço dos imóveis quando as obras ficarem prontas.“Minha casa vale uns R$ 25 mil, mas, se tudo o que eles prometem fazersair do papel, minha casa vai valer bem mais que R$ 50 mil.” Emboraainda não veja as melhorias na comunidade, Ana Lúcia acredita que o PACmelhorou a autoestima dos moradores. “Tem muita gente que nãoconseguia emprego há mais de quatro anos e agora está com carteiraassinada como operário das obras. Quando tudo ficar pronto, a Rocinhavai ser o melhor lugar para morar.”