Efeito eleitoral do Bolsa Família supera o do desempenho da economia, diz pesquisa

27/07/2009 - 16h13

Riomar Trindade
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Pesquisa recente produzida pelo Instituto Brasileiro deEconomia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) revela que opotencial eleitoral do Bolsa Família supera de longe o efeito dodesempenho da economia.Segundo o trabalho, oprograma respondeu pelo aumento de aproximadamente 3 pontospercentuais na votação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nosegundo turno das eleições de 2006, marca superior ao impacto daexpansão do Produto Interno Bruto (PIB) – soma das riquezasproduzidas no país – de 0,34 ponto percentual.Além disso, sustenta oeconomista Maurício Canêdo, da FGV, em 2002, Lula foi bem-sucedidoem regiões mais urbanizadas e desenvolvidas do país. Em 2006, abase eleitoral migrou para regiões menos desenvolvidas. São as regiões maisdependentes do Estado e mais beneficiadas pelo Bolsa Família, programalançado pelo governo em 2004, que atende a mais de 12 milhões defamílias em todos os municípios brasileiros. “Apesar disso, nem oBolsa Família, nem o desempenho econômico explicam toda ou boa parteda migração do eleitorado do presidente Lula para as cidades maispobres”, afirma Canêdo.Na elaboração dotrabalho, o pesquisador consultou dados do Tribunal SuperiorEleitoral (TSE), para as variáveis eleitorais; o InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para as variáveisgeográficas, demográficas e socioeconômicas; e o Ministério doDesenvolvimento Social, para informações sobre a cobertura doprograma.Segundo o estudo, oaumento de 1 ponto percentual no número de beneficiários doprograma elevou em 0,55 ponto percentual a votação de Lula em 2006,enquanto a mesma variação na taxa de crescimento econômicoincrementou a votação em apenas 0,21 ponto percentual. O efeito do BolsaFamília fez a votação de Lula crescer em todos os municípios, maso aumento foi maior justamente naqueles em que o seu desempenho foipior em 2002.“Em 2002 e em 2006, Lulaficou com aproximadamente 61% dos votos no segundo turno. Mas seueleitorado, que tradicionalmente se concentrava nas regiões urbanas,migrou para as áreas mais pobres em 2006. No entanto, o BolsaFamília explica apenas parte dessa mudança”, diz Canêdo.Nas regiões Norte e Nordeste, o efeito do programa ficou acima doregistrado nos demais estados do pais. Em Alagoas, por exemplo, oBolsa Família aumentou em 8,17 pontos percentuais a votação deLula, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo, o incremento foi de1,12 e 1,89 ponto percentual, respectivamente. Alagoas foi o estadoonde o efeito do Bolsa Família mais contribuiu para a votação,seguido de Roraima (6,85%) e do Acre (6,53%).O que explicaria amudança no padrão de votação de Lula?, indaga o pesquisador.De acordo com ele, embora não seja capaz de responder definitivamente a essa pergunta,a pesquisa indica rumos. “Nos municípios maisricos, possivelmente, uma das causas na piora do desempenho eleitoralde Lula é a frustração de seu eleitorado habitual com osescândalos ocorridos durante o primeiro mandato. Nos municípios maispobres, o aumento da votação de Lula pode ser resultado do fato –identificado por alguns cientistas políticos – de que os eleitoresdos municípios menos desenvolvidos, mais dependentes do Estado,seriam mais propensos a votar no candidato do governo.”