Pesquisador acredita que mapa da exclusão é praticamente o mesmo há mais de meio século

01/07/2009 - 9h57

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio - Em 2000,pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp) elaboraram ummapa da exclusão social, “que é praticamente o mesmo que Josué de Castro lançou na década de 50 [do século 20]”, naopinião economista Ricardo Amorim, pesquisador do Instituto dePesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Ele lembrou que a Região Norte/Nordeste continua sendo a mais pobre e a maisafetada pelas questões de desigualdade e de pobreza no Brasil, “oque é gravíssimo” porque, nesse período, é quando o Brasil dáum salto industrial fantástico. "Mesmo assim, nós não conseguimosmelhorar a distribuição da riqueza no Brasil inteiro”.

Os reflexosdesse quadro podem ser notados nos fluxos migratórios, nafavelização, na concentração da pobreza nas grandes cidades.

Para quehaja uma redução efetiva do número de pobres no Brasil, opesquisador do Ipea destacou a necessidade de serem promovidasreformas civilizadoras do capitalismo, “coisa que todos os paísescapitalistas avançados já fizeram faz tempo”.

A primeiramedida é a reforma agrária. “É uma reforma necessária ainda aser feita”. Outra prioridade é a reforma tributária. “Não éfazer reforminha de impostos, diminuir um pouquinho a alíquota aqui,aumentar acolá. Ou então, fazer uma redistribuição da renda entreas regiões brasileiras, um pacto federativo. Não se trata disso”.

Amorimpropôs uma taxação “forte” das pessoas mais ricas do país,com a desoneração das pessoas mais pobres e da classe médiabrasileira.

Avaliou queessa medida, já promovida pelos países industrializados, deu aoEstado um fôlego de recursos suficiente para criar o bem estarsocial europeu. Os governos da União Européia taxam fortemente osmais ricos e redistribuem essa carga sob a forma de benefíciossociais para a população como um todo.

Outra medidafundamental diz respeito à reforma urbana, para evitar que aespeculação imobiliária jogue a população mais carente para asperiferias das cidades, obrigando o governo a “gastar fortunas”em urbanização de áreas.

Eleenfatizou que as três reformas redistributivas devem ser feitas se ameta é construir um país que tem futuro e que não precise ficartemendo por suas crianças em relação ao tráfico de drogas e àcriminalidade. “A pobreza não gera criminalidade, mas adesigualdade sim”, observou o economista.

RicardoAmorim analisou que em relação à pobreza, houve um ganho líquidodesde o lançamento do Plano Real, “mas concentrado nos últimosanos”. Segundo ele, foi uma piora pequena, considerando que oBrasil já vinha de um quadro de estagnação desde o começo dosanos 80. “Mas, em termos numéricos, o aumento da pobreza e dadesigualdade não é tão grande”.

A partir de1999, a retomada da indústria e das exportações acabouestabilizando a situação da sociedade brasileira. Desde 2004, oganho foi mais significativo. Amorim salientou, contudo, que emboratenhamos melhorado um pouco a distribuição da renda e a pobreza,“nós muito mal arranhamos a péssima distribuição brasileira,que tem 500 anos.

Essadistribuição de renda brasileira é muito mais profunda e maisgrave e, com certeza, vai levar décadas para conseguirmos reverterisso, se tivermos políticas desde já. De qualquer forma, aresistência da elite será muito intensa e é difícil esperar umamudança importante para os próximos dez a 15 anos”.Disse que,com crescimento econômico, toda a população ganhará. “Ricos epobres ganharão. Mas a desigualdade não será vencida”.